CCP Cap VII

Crónica do Condestavel de Portugal

Capítulo VII

DE COMO NUN’ÁLVARES PÔS EM PORTUGAL

A PRIMEIRA BATALHA PÉ TERRA E A VENCEU

 

     Por esse tempo cada dia chegavam a Lisboa ao Mestre muitos recados de Entre Tejo e Guadiana, e doutras partes do reino, de castelos e vilas que, se os senhores alçavam voz pelos reis de Castela, logo o povo por força os tomava e punha pelo Defensor do Reino.

     Em Elvas, apenas o alcaide mandou lançar pregão por D. Beatriz, a turba amotinou-se e apoderou-se do castelo. Em Beja, pouco depois, o povo, conduzido por um que chamavam Gonçalo Ovelheiro, cercou o castelo, pôs fogo à porta e entrou nele, enquanto o alcaide, parti­dário da Rainha, se escapava por outra banda.

     Em Portalegre, a gente miúda atacou o cas­telo pela manhã com tamanho ardimento, que ao meio-dia já o tinha em seu poder. Em Estremoz e em Évora e em outras partes, o povo prendeu e amarrou as mulheres e os filhos dos que esta­vam dentro pelo rei de Castela, e ameaçou de os queimar à vista de seus parentes, que preferiram entregar os castelos. E, até em frente de Lis­boa, Almada se entregou, mais por convenci­mento e boas razões que pela força, a Nun'Álvares que lá foi e recebeu a vila para o Mestre.

     Mas nem tudo eram novas de boa fortuna e prazimento. D. João de Castela, que estava em Santarém, acabava de juntar seu poderio para vir cercar Lisboa; e ao mesmo tempo foi sabido que grandes senhores castelhanos, acompanha­dos de muita gente, se dirigiam ao Crato, que já o Prior, D. Pedro Álvares, tinha por El-Rei de Castela, para entrarem por Entre Tejo e Gua­diana e pelo Campo de Ourique. O Defensor do reino viu-se forçado, pois, a dividir as suas forças e acordou mandar Nun'Álvares àquela comarca com 200 lanças para a defender, orde­nando para isso que se lhes desse soldo de um mês, a ele e à sua gente. E estando um escudeiro de Nun'Álvares na Rua Nova em casa de um cidadão, que tinha cargo de pagar os soldos, chegou ali D. Pedro de Castro que vinha também para receber certos dinheiros que o Mestre mandara dar ao conde D. Álvaro Pires, seu pai; e sobre quem havia de receber primeiro a paga começou D. Pedro de agastar-se e afastar com arrogância o escudeiro de Nun'Álvares. Nisto apontou este a cavalo pela Rua Nova e com ele a sua gente de armas; e, quando viu seu escudeiro, perguntou-lhe se já tinha recebido o soldo. Respondeu este que não, porque D. Pedro de Castro, que ali estava, o estorvava. Nun'Álvares chegou-se a D. Pedro e perguntou-lhe porque impedia o escudeiro de receber a sua paga, pois assim não poderia partir tão depressa como devia. D. Pedro lhe respondeu que tanta razão ou mais era ser pago seu pai, do que ele.

     «— Grande razão, retorquiu D. Nuno, é ser pago vosso pai; mas a ele sobra-lhe tempo de ser pago, e a mim não».

     E D. Pedro ripostou:

     «— Pois quer sobre, quer não».

     Nun'Álvares, vendo que lhe falava assim por sobranceria e má vontade pelas palavras que haviam trocado no conselho com o Mestre, perdeu a paciência, desceu do cavalo e, pondo-se-lhe à frente, ordenou que ao seu escudeiro se pagasse aquilo que havia a receber. E depois que fez distribuir o soldo por aqueles que o acompanhavam passou com eles a Almada e, dali, foi ter a Coina, onde poisou. Ao outro dia, a pedido de D. Nuno chegou ali o Mestre; e falaram e comeram juntos. Acabada a comida, o Mestre saiu com Nun'ÁIvares a um rossio aonde se juntara toda a gente de armas e peões. E ante todos o Mestre disse:

     «— Bem sabeis, Nun'Álvares, os recados que me vieram, de Entre Tejo e Guadiana, e, como por vos amar e fiar de vós e por serdes bom cavaleiro, vos escolhi para defensor daquela comarca, e vos dei por companheiros esta boa gente que aqui está, todos verdadeiros portu­gueses, e parte da minha criação. Deles estou seguro que vos ajudarão com lealdade em tudo que seja meu serviço e vossa honra. Porém, lhes ordeno que vos sejam em tudo obedientes, e façam por vosso corpo e mando, como por mim mesmo».

     E eles todos, com alegre semblante, respon­deram que lhes prazia muito, e assim o fariam. Então o Mestre acrescentou para Nun'Álvares:

     «—A vós vos encomendo esta boa gente que convosco levais; e vos rogo que lhe deis o melhor gasalhado, como espero bem que o fareis».

     Nun'Álvares, beijando a mão ao Mestre, respondeu:

     «— Mestre e senhor, ficai certo que assim o farei com o melhor desejo».

     Os outros todos, beijando-lhe também a mão, se despediram, voltando o Mestre para Lisboa, e seguindo Nun'Álvares e os seus para Setúbal.

     Ali chegado, porque EI-Rei de Castela estava em Santarém, e, para que ninguém pas­sasse por ali sem seu conhecimento, mandou de noite D. Nuno pôr suas guardas e escutas em frente de Palmeia, do lado onde passa o caminhe de Santarém para o Ribatejo. E tendo encarre­gado deste serviço a um escudeiro por nome Lourenço Fernandes de Beja, quando Nun'Álvares dormia em sua pousada, chegou aquele homem a cavalo, a toda a brida, para dizer-lhe que pronto se aprestasse, pois vinha pelo caminho de Santarém Pedro Sarmento com 300 lanças. O escudeiro afirmava até, por maior certeza, que vira os fogos do lugar onde jaziam alojados. Nun'Álvares, alegremente, mandou dar às trom­betas e ajuntar e armar a sua gente; e, tanto que saiu da vila, a pôs em batalha, marchando na melhor ordem até além de Palmeia para o lugar onde Lourenço Fernandes vira os fogos. Era já alto o dia, quando vieram novas certas de que as fogueiras vistas eram de almocreves que se haviam alojado num grande vale. E, assim como ia, se partiu Nun'Álvares para Montemor-o-Novo, e dali para Évora. Apenas aqui chegou escreveu a toda a gente da comarca, pedindo-lhes que viessem ter com ele; os cavaleiros com suas armaduras, os besteiros com suas bestas e almazéns, e os homens de pé com suas lanças e dardos por serviço do Mestre, e sem lhes declarar ao certo a razão por que o fazia. Mas por mais que escreveu não lhe vieram nem pôde juntar em Évora senão 30 lanças, o que fazia com as 200 que já tinha 230, e além disso uns 1.000 entre besteiros e peões. Com esta gente se partiu para Estremoz, e aí lhe veio recado certo como aqueles senhores de Castela, por quem o Mestre mandara a Nun'Álvares, já estavam no Crato com muita gente e bem armada. Apenas tal recado houve, Nun'Álvares mandou abrir trin­cheiras e construir defesas à volta do arraial. E ali, bem contrariado, aguardava as gentes que mandara chamar mas que não vinham, especial­mente os de Elvas e de Beja. Até que muito apertados por suas cartas lhe chegaram mais umas 70 lanças, com seus besteiros e homens de pé. E tanto que os teve juntos falou-lhes desta forma:

     «Amigos, bem creio que já todos sabeis como o Mestre, meu senhor, me mandou a esta terra para com a ajuda de Deus e vossa a defen­dermos de algum mal ou dano que os Castelhanos queiram praticar. E porque tenho recado certo de que o Prior do Hospital, meu irmão, o Mes­tre de Alcântara, e Martim Anes de Barundo, que contra direito se intitula Mestre de Avis, e Pêro Gonçalves de Sevilha e outros senhores com muita gente estão no Crato, que daqui é mui cerca, prontos a entrar nesta terra e des­truí-la, minha vontade é de ir em vossa compa­nhia buscá-los antes que se movam, e pelejar com eles. Espero na mercê de Deus ter deles vencimento, o que será para o Mestre, meu senhor, extremado serviço, e para vós honra e grande bem, pois defendeis a vossa terra, o que direitamente vos pertence».

     Tanto que Nun'Álvares acabou estas pala­vras, todos à uma disseram que a coisa era pesada e muito de cuidar, pedindo lhes desse espaço para nisso pensarem; e após responderiam. Não foi Nun’Álvares mui satisfeito, mas sofreu-se, porque não podia fazer mais. Ao dia seguinte, feito seu acordo, responderam por esta forma:

     «— Nun’Álvares senhor, bem entendido temos o que ontem nos dissestes: e achamos que é coisa muito duvidosa irmos em vossa com­panhia pelejar com aquela gente pelas razões que vamos dar. A primeira por serem grandes senhores e com muita gente; a segunda porque vêm com eles o Prior, vosso irmão, que é um dos principais, e outros vossos irmãos, e é dura coisa pelejardes vós com eles; a terceira porque tendes muito pouca gente, comparada com a deles. Concluindo: não temos intenção de irmos convosco a tal peleja».

     Quando Nun’Álvares tal resposta ouviu teve ainda maior pena que da primeira vez; e, com a grande dor e aflição em que ficou, lembrou-se de lhes falar assim. Corria em frente deles uma pequena regueira com uma pouca de água e Nun'Álvares foi para eles e exclamou:

     «— Amigos, de mim não sei que vos diga mais do que já disse; mas enfim vou responder às razões que me destes, uma por uma. A primeira, dos Castelhanos serem grandes senhores, tanto maior honra e louvor vos será de os vencerdes. Quanto à dúvida que tendes por ali virem meus irmãos, eu vos digo e prometo de verdade que ainda que lá viesse meu pai, eu seria contra ele, por servir o Mestre, meu senhor, e defender a terra que nos criou. E para verdes que assim é, se quiserdes ser comigo nesta obra, eu vos juro que serei o primeiro que a comece, para verdes a vontade que tenho neste feito contra eles. E enfim, pela parte de sermos poucos e eles muitos, não duvideis por isso de irdes a tal obra, pois muitas vezes aconteceu os poucos vencerem os muitos, que o vencimento está em Deus e não nos homens. Mas já que assim é, rogo-vos que aqueles que quiserem ir comigo a esta obra se passem da parte dalém deste regato, os que não quiserem fiquem de cá. E isto dizendo passou ele; e os outros, quando o viram fazer, todos disseram que queriam ir com ele e passaram também. Mas como quer que assim o dissessem, alguns se remordiam, mostrando já que mais o tinham dito por vergonha que por boa vontade, especialmente Estêvão Anes, o moço, e Mem Afonso de Beja, que logo disse­ram de praça que iam lá em forte ponto, pois jamais voltariam. Mas Nun'Álvares, que se cria seguro de irem todos com ele, preparou-se para ao outro dia bem cedo partir a buscar os inimi­gos. E, dormindo na pousada, passada a meia-noite, chegou-se-lhe Álvaro Coitado em grande pressa dizendo-lhe que Gil Fernandes e Martim Ruiz de Elvas tinham já selado as bestas e posto as armaduras, e se preparavam para vol­tar a Elvas, sem querer ir à batalha. Nun’Álvares levantou-se de salto, correu onde eles esta­vam mandando carregar, e increpou-os assim:

     «— Oh! irmãos amigos! Nunca de vós cui­dei que faltásseis à promessa para tornardes para vossas casas, deixando tanta honra como Deus vos oferece. E mais de vós me espanto, Gil Fernandes, de quem pensava e penso que sois um dos grandes servidores que o Mestre nesta comarca tem».

     Estas e outras palavras de tal modo lhes disse que os mudou da má tenção e de novo se resolveram a ir à batalha com ele. E isto feito, D. Nuno, sem mais demora, mandou dar as trombetas; e partiu-se com sua gente a cami­nho de Fronteira, por onde haviam de vir os Castelhanos. E não tardou que um escudeiro castelhano, chamado Rui Gonçalves, que já noutro tempo vivera com Nun'Álvares em casa de seu pai, e agora vivia com o Prior, seu irmão, chegasse num cavalo a toda a brida. Nun'Álvares o recebeu bem, perguntando-lhe onde era seu irmão e aqueles outros senhores de Castela. Res­pondeu-lhes o escudeiro que ficavam já em Fron­teira a légua e meia com intenção de combater o castelo que estava pelo Mestre. Perguntou-lhe Nun'Álvares ainda ao que vinha, de verdade. O escudeiro volveu-lhe:

     «— Bem sabeis, senhor Nun'Álvares, que nisto como em tudo só a verdade vos direi. Sede certo que a vosso irmão e àqueles senhores e gente de Castela foi dito que estáveis prestes para os ir buscar e lhes dar batalha. Muito se espantaram de terdes tamanho intento com tão pouca gente. Mas vosso irmão lhes disse que se vós neste feito alguma coisa tínheis come­çado, vos conhecia por tal, que fossem todos certos que a levaríeis avante até morrer. E então acordaram que viesse aqui para conhecer vossa tenção: e a isso vim. Mas o Prior vosso irmão vos envia dizer que é coisa mui duvidosa com tão pouca gente irdes pelejar com tantos e tão grandes senhores, e que, se na batalha fordes, ele, por mais que o queira, não poderá defen­der-vos. E, como irmão, vos envia aconselhar que deixeis vossa tenção e vos torneis para seu senhor, D. João de Castela, o qual, assegura, vos fará tantas mercês, que fiqueis bem satisfeito».

     Terminada a embaixada, Nun'Álvares res­pondeu:

     «— Rui Gonçalves, dizei a meu irmão que em tal feito não quero, nem Deus queira que aceite seu conselho; que da tenção que tenho não me mudarei, e dizei a esses senhores que se apron­tem para pelejar, pois não sei de coisa que mais deseje que ser já na batalha. A vós, Rui Gon­çalves, rogo-vos, se alguma coisa quereis fazer por mim, pelo pão que em minha casa haveis comido e pela boa vontade que vos tive sempre, que vades com este recado o mais depressa que puderdes, inda que mateis o cavalo, pois tão depressa não ireis, que eu, com a ajuda de Deus, não vos vá de cerca no encalço».

     Rui Gonçalves assim fez; foi-se a todo o galope para Fronteira. E apenas ali chegou deu a resposta que trazia ao Prior e aos demais senhores, que, apenas o ouviram, deixaram de combater a vila e se aprestaram para a batalha.

     E mal começavam a sair do arrabalde, a caminho de Estremoz, já Nun'Álvares com sua gente ocupara um lugar, onde chamam os Atoleiros meia légua pouco mais ou menos aquém de Fronteira contra Estremoz e mui conveniente para defender-se. Dali dominavam eles os que viessem de Estremoz. E, estando certo de que os Castelhanos viriam à peleja, Nun'Álvares fez logo desmontar todos os seus homens de armas e com essa pouca gente concertou as suas forças num quadrado, — a vanguarda, a retaguarda e as alas direita e esquerda. À frente colocou todos os homens de armas com a lança em riste bem fincada ao chão; e por detrás os besteiros e homens de pé, prontos a desferir as setas, os dardos e as pedras sobre os inimigos. Assim, ainda que pequena, a hoste era como um só homem e um só coração, muralha viva, unida e inabalável, resolvidos todos a vender a vida pelo mais alto preço. E notareis, senhores, que esta foi a primeira vez, de memória de homens, que um capitão em Portugal pôs batalha pé terra. Tudo isto feito e concertado, Nun'Álvares, montado numa mula deu a volta ao quadrado, animando a todos com palavras de valor e ale­gre gesto. E recomendou-lhes que em seus cora­ções se lembrassem constantemente de quatro coisas. A primeira: encomendarem-se a Deus e à Virgem Maria sua mãe; a segunda: que eram ali para servir o Mestre, seu senhor, e alcançar grande honra; a terceira: que estavam ali para defender-se a si e aos seus, suas casas e a terra onde nasceram, e tirar-se da sujeição em que o Rei de Castela os queria pôr; e a quarta: que tivessem sempre em pensamento sofrer todo o trabalho e porfiar na peleja, não uma hora, mas um dia inteiro, e ainda mais se lhes cumprisse. E, ao terminar estas palavras, já os Castelhanos se viam muito perto. Nun'Álvares desceu da mula em que montava, e, a pé, foi colocar-se na vanguarda perante a sua bandeira para cumprir a promessa, que fizera, de ser o primeiro a come­çar a batalha.

     Os Castelhanos, quando viram Nun'Álvares com tão pouca gente e assim de pé, supuseram que por serem muitos e bem cavalgados, facil­mente os desbaratariam. E assim, a galope, lan­ças em riste, com grande alarido como mouros, aqueles grandes senhores e fidalgos castelha­nos partiram e toparam com tremendo embate na gente portuguesa. A confusão foi grande, e a matança maior. Cavalos e cavaleiros vieram cravar-se nas lanças dos homens de armas de D. Nuno, enquanto as frechas, os dardos, as pedras, arremessadas pela arraia miúda com a força de uma catadulpa contra um lanço de muralha, trespassavam, batiam, derribavam, con­cluindo o efeito do primeiro embate. Os cava­los que não caíram logo, acicatados e feridos empinaram-se com a dor, recuaram, deram volta e embaraçando-se com os que vinham a seguir, sacudiam e derribavam os cavaleiros, sobre os quais caíam como saraiva as armas de arremesso. Oh! que formosa e bem pelejada batalha! Os golpes, as quedas, os gritos não cessavam. Filas sobre filas, os cavaleiros castelhanos avançaram, e tombaram ou partiram, arrastados dos corcéis a um lado e a outro, como feixes de trigo em dia de ceifa e ventania. E assim quis Deus serem os Castelhanos desbaratados e muitos deles mor­tos, como o Mestre de Alcântara e Pêro Gonçal­ves de Sevilha; e outros, como Pedro Álvares, Prior do Hospital, e Martim Anes de Barundo que se dizia Mestre de Avis, fugidos, que é ver­gonha dizê-lo, a bom poder dos seus cavalos.

     Nun’Álvares vendo como os Castelhanos eram desbaratados e fugiam, montou a cavalo com alguns dos seus, pois nem todos puderam haver depressa suas bestas, e seguiram-lhes no encalço por légua e meia, até que, forçados pela noite, tiveram que tornar. E diziam alguns dos seus que já bastava, e era tentar a Deus seguir tão longe o encalço, não se contentando com a grande mercê que lhes fizera Deus.

     E sabereis que a batalha se deu Quarta-Feira de Trevas. Mas foi na cerração daquela batalha tão incerta que a estrela de Nun'Álvares, como grande capitão, começou a alumiar. A fama espalhou aos quatro ventos o feito do venci­mento e o nome do vencedor. Ao outro dia de manhã D. Nuno partiu de pé e descalço em romaria a Santa Maria do Assumar, que ficava dali a uma légua. Encontrou, ao chegar, a igreja muito suja das bestas da hoste dos Castelhanos, que haviam pousado nela. Mandou-a limpar, e foi ele o primeiro a tirar com humildade o esterco de sobre o chão sagrado.

     E como um casco bom nunca vem só, logo a poucos dias os castelos de Arronches e Alegrete lhe vieram às mãos, um à força de armas, outro por preitesia. Deus velava.