Livro

    Roque Gameiro
     O Homem e a Obra
              Autora: Maria Lucília Abreu
              Edição: ACD Editores, 2005
 
     ÍNDICE
I - PREFÁCIO 
II - INTRODUÇÃO 
III - O HOMEM Fotobiografia
IV - A OBRA 
      ESPAÇO URBANO
Pintor e a Cidade
Porta lateral dos Jerónimos; Aqueduto das Aguas Livres; Torre de Belém; Rua de S. Miguel, em Alfama.
      MUNDO RURAL
A Paisagem
Colares, estrada do Corvo; Cintra, Quinta de Monserrate; Avô; Em S. Pedro do Sul; Luso; Serra da Estrela; Aguarela para ilustração de As Pupilas do Senhor Reitor;Eugaria; Volta do mercado saloio.
- A habitação
Casa rústica em Minde; Uma Quelha em S. Romão; A capela da Arrifana; Em Almoçageme;
      A ORLA MARÍTIMA
A Gruta do Sono; Praia das Maçãs; Praia Grande; Depois da tempestade; Gruta da Praia da Ursa; Grutas na Praia da Ursa; Interior da Fortaleza das Berlengas; Pedra da Papoa; Chuva no mar; Fortaleza das Berlengas vista da arriba; Nazaré; Praia da Nazaré; Nazaré; Nazaré à tarde; Arco da Adraga; Barcos em Vila Franca.
      A INSERÇÃO DA FIGURA HUMANA NA PAISAGEM
O retraio a aguarela
Auto-retrato; Retraio da esposa do Artista; Retrato da Mãe do Artista; Retrato da filha do Artista; Retrato de Mamia; Tia Teodora Guedes; Figura de Homem.
Retrato a grafite
O homem do capote; Retrato de Júlio Dinis
      GENTES E COSTUMES
Lavadeira; Estudo Para o "Vira"; Estudo de mulher de Ovar; A moda que passa – estudo; Xaile antigo – estudo; Tricana; Bailarina; Sem Titulo
      A EVOCAÇÃO HISTÓRICA
Evocação de Lisboa no século XVI; Sem título; Sem título; Torre de Belém.
      A ILUSTRAÇÃO
Aguarelas para a ilustração
Uma rua em Lisboa; Costumes do século XVIII; cosmorama; Mulheres de capote e lenço; Costumes do século XVIII; Aguarela para ilustração.
Obras Ilustradas
Álbum de Costumes Portugueses; Os Lusíadas; História das Toiradas; Os costumes antigos/Portugal de algum dia; As Pupilas do Senhor Reitor; Quadros da História de Portugal; História da Colonização Portuguesa do Brasil; Lisboa Velha; O Romance das Ilhas encantadas; Descoberta do Brasil; História Geral dos Jesuítas; A Sereia; Oscar e Amanda; História do Palácio de Queluz.
Páginas soltas de álbuns de apontamentos
Catálogos de Exposições em que o Pintor participou
V - MEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS 
VI - ROQUE GAMEIRO VISTO POR OUTROS PINTORES 
VII - CONCLUSÃO 
Bibliografia
 
PREFÁCIO
     A aguarela como modo de realização da pintura carrega em si um certo estigma quanto à apreciação pelo público e pelos meios da crítica de Arte.
     Associa-se-lhe alguma consideração como uma "arte menor", a que não é estranha a sua natural condição dimensional e a relativa fragilidade aparente do seu suporte material. É certo que, perante a maior robustez e liberdade dimensional da pintura a óleo, a aguarela aparece como uma coisa fugaz, amável mas limitada e reservada à pequena notação de impressões, estados de alma e registos locais do enquadramento da vida, tal como o "pastel" ou o sumário "croquis do natural". Há, sem dúvida, uma certa ironia nos factos, quando se contrasta o estado deplorável de conservação de grande parte da pintura a óleo do século XIX e até da mais recente, com a frescura magnífica das aguarelas e pastéis desses mesmos tempos, para já não falar da impressionante qualidade das têmperas, frescos e encáusticos herdados de séculos bem recuados.
     Mas é evidente, para quem praticar várias técnicas de pintura, que as tintas de base oleosa e secagem lenta "esperam", dão tempo, raspam-se, sobrepõem-se, aplicam-se das formas mais variadas, admitem velaturas, retomam-se quando necessário - e a aguarela e o fresco, não! A aguarela exige um domínio e até uma destreza que são ao mesmo tempo a sua força e a sua limitação; mas essas não implicam qualquer sua menoridade.
     Considerar os condicionamentos e vantagens da utilização de qualquer técnica como critério de avaliação ou explicação das realizações artísticas que permite, seria uma atitude muito pobre e incipiente em termos críticos: poucos - se alguns! - a subscreveriam e não seria certamente aceite aqui. Mas ao olhar a História da Aguarela perante a de outras técnicas, poderia defender-se, aos olhos de uma crítica suficientemente aberta, que, se desde William Blake ou de Francisco de Holanda até, por exemplo, Egon Schiele ou Paul klee a força magnífica da realização se manifestou "apesar de" ter sido usada a aguarela, podendo bem terem sido usadas outras técnicas, em Turner, Russel Flint ou Arthur Rackam ela "teria de ser" usada, porque nenhuma outra permitiria responder às necessidades da sua expressão.
     Ponham-se lado a lado e sob uma mesma luz um quadro de qualquer dos mestres do paisagismo contemporâneos de Roque Gameiro ou de Alves de Sá com uma aguarela  destes, e perceber-se-á a diferença.
     É nesta perspectiva que se julga conveniente apreciar a obra de Roque Gameiro e de outros aguarelistas seus contemporâneos: o que pretendiam, "tinha de ser" executado em aguarela. O gosto pelas atmosferas luminosas e pelas texturas variadas sob o efeito da luz, a riqueza cromática e tonal permitida pela óptica das tintas transparentes, a capacidade de integrar o pormenor visualmente ilustrativo dentro da ambiência, privilegiaram para aqueles artistas paisagistas e ilustradores o uso deste meio em relação ao óleo, e ao mesmo tempo ditou-lhes as possibilidades e os limites dentro da estética e do gosto do seu tempo.
 
     Uma importância, não intencional mas eficaz, da publicação do presente estudo e da série de reproduções de obras de Roque Gameiro, todas reconhecidas e certificadas, será a de permitir a coleccionadores, críticos e simples amadores de Arte ter a percepção das diferenças entre a obra autêntica e as falsificações - por vezes de nível afrontosamente baixo - que circulam no mercado das obras de arte vilipendiando por aí a imagem pública da pintura do Artista.
     Mas a maior importância do trabalho notável de investigação e identificação conduzido pela Dra. Maria Lucília Abreu e que está na base desta publicação, reside na apresentação das várias facetas da obra de Roque Gameiro enquadrando-as na sua época, na sua vida e, sobretudo, na sua personalidade. E é louvável que, ainda que seja patente a sua empatia com a Figura e a obra do Mestre, o tenha feito sem perda de rigor e de atenção crítica.
J. P. R. G. Martins Barata