Depois da tempestade (1923)

Depois da tempestade
Aguarela sobre cartão
47 x 37 cm
1923
Mar de espuma
Aguarela sobre papel
colado em cartão
1922
Casa dos Patudos (Alpiarça)
     Numa primeira leitura deste registo paisagístico, poderíamos considerar que o pintor tenha recorrido a uma simplificação dos seus componentes, se não fossem a exuberância cromática e as proporções da enorme massa rochosa que domina toda a composição. Na realidade, dir-se-ia que o imenso rochedo que se avoluma a nossos olhos captou toda a luminosidade envolvente, em cambiantes de vermelho de matizes diversos, consoante a incidência da luz, chegando a receber tonalidades azuladas na zona de sombra. Num dualismo antitético, a frialdade morfológica deste penhasco adquire, estranhamente, uma cor quente.
     As águas em que diferentes cambiantes se misturam, parecem ter-se tranquilizado, embora na espuma, entremeada de tons de areia e limos, se encontrem vestígios de uma anterior agitação. Na estreita faixa de mar, junto à linha do horizonte, a cor de um verde plúmbeo recorda ainda a passada tempestade. Entretanto, o céu retomou a sua tonalidade de um azul diluído cortado por esmaecidas nuvens.
Maria Lucília Abreu
in Roque Gameiro - O Homen e a Obra, ACD Editores, 2005
 
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