História de Portugal, popular e ilustrada (1899-1905)

                Título: História de Portugal, popular e ilustrada
             Autores: Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895)
        Publicação: Lisboa : Empreza da Historia de Portugal, 1899-1905
   Ilustrações de: Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)
Descrição física: 12 vol, 29 x 19 cm
 
 
 
 
Vol. 1
 
História de Portugal, popular e ilustrada - Volume 1:
Da fundação até Aljubarrota
 
 
Pág. 1 - Primeiros guerreiros da Península
Não é uma simples fantasia este desenho. É calcado sobre os trabalhos e desenhos apresentados no excelente livro do sr. Cristóvão Ayres, História do exército Português, Lisboa, Imprensa Nacional, 1898, livro cheio de indicações preciosas sobre o assunto de que trata.
 
 
Pág. 5 - D. Afonso VI de Castela
Não conhecemos iconografia alguma onde se encontre o retrato deste notável personagem que tão ligado andou aos primeiros acontecimentos da História Portuguesa; mas falta grave seria não ornar este livro com a figura dum homem tão notável como foi Afonso VI, cujos traços fisionómicos são dados se­gundo as notícias que do seu tipo nos conservam os documentos coevos. Além do que, dá-nos a nota dos trajes da época, no que o nosso ilustrador tem sido dum rigor estranho.
 
 
Pág. 9 - Batalha de Zalaka
É uma composição artística, própria para dar uma ideia dos trajes guerreiros e armas dos primeiros tempos da monarquia. A referência a esta batalha encontra-se a pág. 4 da nossa edição.
 
 
Pág. 13 - D. Urraca de Leão
Ainda outro personagem notável cujo nome anda ligado à nossa história nos seus primeiros tempos, e com cujo retrato, de que não existe documento al­gum autêntico, crime seria não adornar a nossa pu­blicação. Para justificar a sua apresentação, bastaria o intuito que houve em dar ao público uma ideia dos trajes das damas de alta linhagem nos séculos XI e XII.
 
 
Pág. 16 - Conde D. Henrique
Deste vulto da História pátria, por certo um dos mais brilhantes do seu século, diz-nos José da Cunha Taborda a pág. 143 das Regras da Arte de Pintura, (Lisboa, 1815), repetindo o que dissera Fr. Ber­nardo de Brito no seu Elogio Histórico do Conde D. Henrique, que existia um retrato seu de iluminação antiga, tirado ao natural, na primeira folha de uma Bíblia antiquíssima do cartório de Alcobaça. Procu­rado esse retrato não foi encontrado. Portanto, criou-o a intuição artística de Roque Gameiro, porque não se podia deixar de dar numa publicação desta ordem o vulto do robusto fundador da nacio­nalidade portuguesa.
 
 
Pág. 17 - Castelo de Guimarães
É o berço da monarquia portuguesa um dos nossos monumentos de maior valor histórico. A fotogravura que damos é feita sobre uma expressamente tirada para a nossa edição.
 
 
Pág. 21 - Igreja de Nossa Senhora de Oliveira, em Guimarães
Respeitável monumento fundado no século IX. É lá que existe a pia batismal de D. Afonso Henriques. Bastaria este facto, para que não pudéssemos deixar de estampar a gravura representativa deste templo.
 
 
Pág. 25 - D. Tareja, mãe de D. Afonso Henriques
A fotogravura que neste lugar damos é cópia duma velha litografia de Guglielmi, sobre a qual foi reproduzido o retrato que veio publicado há muitos anos no Museu Pittoresco, e que veio também gravado em cobre acificado no belo livro do sr. Benevides, Rainhas de Portugal. Sobre a sua autenticidade, eis o que diz aquele ilustre escritor no livro citado: «Não há retratos autênticos da rainha D. Thereza. Naquele que se acha na obra de Simão Beninc, e que Figanière reproduziu nas Memorias das rainhas de Portugal, a fisionomia dá-nos impressões contrárias ao que nos inspira o que sabemos do caracter e qualidades da primeira rainha de Portugal; o traje também não nos pareceu muito próprio; por isso lhe preferimos outro, litografado por Guglielmi, posto não tenha mais autenticidade do que o primeiro, mas cuja expressão e energia fisionómica concordam melhor com os actos da vida política e particular da mãe do nosso primeiro rei, do que a do retrato do manuscrito do Museu Britânico; além disso também o trajo nos parece mais adequado. Segundo as informações que obtive, a litografia de Guglielmi é uma das várias copias tiradas de uma litografia francesa, reprodução de uma antiga pintura; não consegui, porém, verificar a realidade destas informações. Foi só pelo lado artístico que me resolvi a reproduzir aqui o retrato de D. Thereza». Não conseguimos ir mais longe do que o ilustre investigador das Rainhas de Portugal.
 
 
Pág. 29 - Fernão Peres de Trava
O personagem não é muito simpático à nossa alma de portugueses; mas sabe-se que teve certa influência nos nossos destinos; aí fica, pois, mais, ou menos delineado segundo a descrição que do seu tipo fazem as antigas crónicas; porque a história não deixou dele retrato autêntico, em estátua ou em iluminura. Serve, como muitos outros, para nos dar uma ideia dos trajes guerreiros da época.
 
 
Pág. 32 - Egas Moniz oferecendo a Afonso de Leão, etc.
Tornava-se necessária a reprodução desta cena, uma das mais brilhantes para a história das tradições da honra portuguesa. A sua descrição vem a págs. 17 e seguintes da nossa edição.
 
 
Pág. 33 - D. Afonso Henriques
Aí fica a cópia da estátua existente em Guima­rães, sua terra natal, e não é preciso dizer mais, porque ninguém ignora as aturadas investigações, o ímprobo trabalho a que se entregou o malogrado escultor Soares dos Reis para reproduzir no bron­ze aquela figura épica, tal como no-la dão a crónica e a tradição.
 
 
Pág. 37 - O Castelo de Leiria
É uma das mais opulentas riquezas históricas do país, esta dos castelos. E tendo eles figurado sempre nas lutas com o estrangeiro e mesmo nas lutas intestinas, indispensável se nos afigurava dá-los ao público. Este, como aliás todos os que nós apre­sentamos no decurso da obra, é feito sobre fotografia tirada expressamente para a nossa edição da História.
 
 
Pág. 41 - Ajuste de pazes, em Samora, entre Afonso Henriques e Afonso VII de Leão
É feita com todo o rigor histórico, e segundo o que rezam as crónicas, esta composição. A narrativa do facto que ela representa encontra-se a pág. 28 da nossa edição.
 
 
Pág. 45 - Vista de Santarém
A indicação que acompanha esta gravura dispen­sa-nos de mais explicações.
 
 
Pág. 48 - Tomada de Santarém
Este feito de armas de Afonso Henriques, que Pinheiro Chagas nos descreve a páginas 31 da nossa edição da História, foi Roque Gameiro cuidadoso em a reproduzir com todo o característico de que ela foi revestida, percorrendo, para nos dar a magnífica estampa que apresentamos, a História de Portugal do grande Herculano.
 
Pág. 49 - Morte do lidador Gonçalo Mendes da Maia
De relance passou Pinheiro Chagas por este feito memorável como tantos outros dos primeiros anos da monarquia. Mas se o leitor quiser ver onde se inspi­rou Roque Gameiro para realizar a sua composição, é procurar as Lendas e narrativas de Alexandre Herculano, onde encontrará, ainda que romantizada, a história dessa morte gloriosa, como deviam ser as dos heroicos cavaleiros daquelas épocas lendá­rias.
 
 
Pág. 53 - Castelo dos Mouros, em Cintra
É ainda uma das velhas relíquias desses heroicos tempos de combates e lutas peito a peito. A nossa gravura é feita sobre uma excelente fotografia, que nos dá o aspecto geral do majestoso castelo.
 
 
Pág. 57 - Iacub el-Mansur
Só o traje guerreiro e o tipo do mouro, nos quis dar o nosso ilustrador ao apresentar esse valente lutador islamita, que durante tantos anos conservou em respeito o valor dos cristãos. Documento algum chegou ao nosso conhecimento, pelo qual se pudesse ressuscitar o retrato do altivo sarraceno.
 
Ver Original:
Pág. 61 - Tomada de Évora - Geraldo sem Pavor assaltando a torre da Atalaya.
Tem muito de lendário este feito heroico, sobre o qual, justamente por não haver documentos comprovativos, o nosso historiador passa por alto. Mas como grande parte dos nossos leitores poderão não conhecer essa lenda, para aqui a transcrevemos conforme no-la transmitiu a tradição. Geraldo sem Pavor, assim cognominado em razão da sua bravura, era descendente de uma nobre família da Beira, de apelido Pestana e batalhou, sempre com valentia, ao lado de D. Afonso I. Como tivesse umas ques­tões com um fidalgo, seu companheiro de armas e privado do monarca, desafiou-o, e matou-o em duelo. Receando a cólera do seu rei, fugiu indo abrigar se na serra de Montemuro, donde, ligado com um bando que capitaneava, saía a roubar mou­ros e cristãos, sendo o terror daqueles povos. Cansado desta vida, que lhe não estava nos brios nem na índole, e desejando alcançar o perdão do rei, quis fazê-lo, mas dum modo que este não lho pudesse recusar. Acompanhado apenas de cinco companhei­ros, procurou o alcaide mouro de Évora de quem tentou cativar as simpatias dizendo-lhe muito mal de Afonso Henriques; o seu estratagema foi coroa­do do melhor êxito e durante o tempo que esteve no castelo teve ocasião de o estudar minuciosa­mente. Despedindo-se do alcaide, foi ter com os seus, a quem incitou ao grande acto de coragem de to­mar o castelo de Évora, prometendo-lhes o perdão do rei e ainda terras e honrarias. Os companheiros ouviram de boa sombra a proposta do seu chefe e este, logo que anoiteceu, saiu acompanhado de todos eles, a quem mandou ocultar em certo sítio perto da entrada do castelo. Em seguida dirigiu-se sozinho à torre da Atalaya, onde estava por sentinela um mouro e uma sua filha. Não tinha esta torre por­ta de entrada, mas apenas uma janela por onde só se podia penetrar por meio de uma escada de corda. Intemeratamente, espetando lanças de ferro nas jun­tas das pedras, subiu até à janela onde estava a mou­ra, que precipitou abaixo da torre, onde entrou, degolando em seguida o mouro que ainda dormia, levando as cabeças do pai e da filha aos seus, em sinal de bom anúncio. Depois deste feito, que a nossa gravura representa, o resto era relativamente fácil; a cidade foi saqueada, sendo tirado o quinto para o rei, como era da praxe, e mandado a D. Afonso Henriques conjuntamente com a notícia desta façanha e o pedido de perdão para ele e para os seus. D. Afonso Henriques, satisfeito com tal oferecimento, aceitou tudo, concedeu o perdão dese­jado e tomou conta da cidade, nomeando Geraldo sem Pavor alcaide dela.
 
Pág. 65 - Tomada de Lisboa - Martim Moniz atravessando-se na porta do castelo.
Mais ainda do que lendário, este facto passa por apócrifo conforme no-lo diz Pinheiro Chagas. Mas mesmo apócrifo como é, há de haver certo público que não desgostará de saber como a tradição contava o caso. Para satisfazer esses, vamos reproduzir a inscrição que está sobre a Porta do Moniz, onde se encontra metido em um nicho o busto em már­more (evidentemente muito mais moderno do que a inscrição refere) de D. Martim Moniz:
«El-Rei D. Afonso Henriques mandou aqui colocar esta estátua e cabeça de pedra, em memória da morte gloriosa que Dõ Martim Moniz, projenitor da família dos Vasconcellos, recebeu nesta porta, quan­do, atravessando-se nela, franqueou aos seus a en­trada, com que se ganhou aos Mouros esta cidade, no ano de 1147. - João Rodrigues de Vasconcellos e Sousa, Conde Castelo Melhor, seu decimo quarto neto por varonia, fez aqui pôr esta inscrição no ano de 1646».
 
 
Pág. 69 - Capela de S. Miguel em Guimarães onde foi batizado D. Afonso Henriques
Não tem rendilhados nem lavores artísticos a ve­lha capela de que damos a gravura; mas tem oitocentos anos e é um monumento gótico respeitável, porque nele foi batizado o fundador da nacionalidade portuguesa. Isto basta para que ela figu­re nas páginas da nossa edição.
 
Ver Original:
Pág. 73 - D. Saneho I
É calcado sobre a sua estátua jacente existente no seu magnífico túmulo em Santa Cruz de Coimbra o retrato que damos deste digno sucessor do intemerato Ibn-Errik.
 
Pág. 77 - Castelo de Palmela
Claro que nada resta agora do primitivo castelo de Palmela senão os alicerces - se esses ainda existem - onde se deram os titânicos combates a que se refere a nossa História. Impossível também seria restaurá-lo, mesmo por meio de um desenho conjectural. Preferimos dá-lo como ele existe agora, porque não deixa por isso de ser um monumento nacional.
 
 
Pág. 81 - D. Dulce, mulher de D. Sancho I
Não existe documento algum pelo qual se possa avaliar da beleza senhoril da gentil princesa. Mas num livro árido como é uma História, fica sempre bem uma figura doce de mulher, antes que não seja senão, como nos sucede agora, para fazermos ideia da originalidade e graciosidade dos trajes femininos de então.
 
 
Pág. 85 - Castelo dos Templários em Tomar
Este sim, que tem toda a autenticidade e toda a respeitabilidade que dão às suas ruínas as tradições e os séculos que por ele têm passado. Dessas ruí­nas é cópia fiel a excelente gravura que a nossa edição apresenta.
 
 
Pág. 89 - D. Gualdim Paes, mestre dos Templários
É tradicional, e se de simples imaginação não o sabemos, esta figura do simpático mestre dos Templários. E nem melhor podia ficar do que perto do castelo de Tomar, muda testemunha dos seus brilhantes feitos militares.
 
 
Pág. 93 - Sancho I dictando ao Chanceler Julião a carta para Inocêncio III
Parece-nos que se não poderia dar melhor interpretação do que a que foi dada peio nosso ilustrador a esta cena, em que se revela toda a energia do rude e intemerato batalhador que se chamava Sancho I. Esta cena vem magistralmente descrita a págs. 45 e 46 da nossa edição.
 
 
Pág. 96 - O bispo do Porto Martinho Rodrigues
Devia ser assim com aquele aspecto de rijeza inquebrantável o duro bispo do Porto, que não receava medir-se com o próprio rei, e parece-nos que devia ter este aspecto a figura de um homem que era o tipo característico do clero naquela assombrosa idade média, tão misteriosa e tão cheia de som­bras.
 
Pág. 97 - Tomada de Alcácer
Antes de lançar o lápis ao papel para traçar a cena a que o leitor está assistindo, teve Roque Gameiro o trabalho de visitar o sítio aonde o acontecimen­to se dera para restaurar conjecturalmente o castelo no sítio onde ele se levantara, a fim de nos dar o as­pecto todo cheio de verdade dessa formidável bata­lha em que mais uma vez a cruz foi erguida onde pouco antes se hasteava o crescente.
 
 
Pág. 101 - Fr. Soeiro Gomes
Não há memória de estátua ou monumento pelo qual se pudesse restaurar a fisionomia deste fra­de enérgico, introdutor da ordem dominicana em Portugal, e que, como a história refere, tão larga influência teve na política militante do século XIII; mas tornava-se preciso criá-lo, porque a sua figura passa altiva pela nossa história e impõe-se-nos como tipo de homem de indomável energia.
 
 
Pág. 105 - Túmulo de D. Sancho I
É uma bela obra de séculos áureos, este mausoléu do segundo rei da dinastia Afonsina. Existe em Santa Cruz de Coimbra, o velho monumento fundado por D. Afonso Henriques, do qual constitui uma das mais preciosas belezas artísticas.
 
Ver Original:
Pág. 109 - D. Afonso II
Não sabemos de monumento em que se perpetuasse a figura deste hábil monarca, que tanta as­túcia sabia ocultar sob a sua obesidade que lhe granjeou o cognome de Gordo. Mas mal pareceria que numa história do nosso país, não aparecesse, ainda que de simples fantasia, a figura de um ho­mem do valor de Afonso II.
Ver Original:
Pág. 113 - D. Sancho II
O que dissemos com respeito à autenticidade do retrato que demos de D. Afonso II, apliquemo-lo ao que apresentamos do quarto monarca da primeira dinastia.
 
Pág. 117 - O papa João XXI
É feito sobre uma magnífica gravura em aço saída numa publicação que fez época e cujos retra­tos eram conscienciosamente procurados - Retratos e elogios de varões e donas - o que damos aqui desta glória da Igreja portuguesa. A acreditar na autenticidade dum grande mapa publicado por Goupil em que se reproduzem todas as fisionomias dos vultos que se têm sentado na cadeira pontifi­cal, o nosso retrato é duma grande fidelidade, por­que tal aspecto nos apresenta ele no quadro em questão.
 
 
Pág. 121 - Martim de Freitas depositando as chaves do castelo de Coimbra nas mãos do cadáver de D. Sancho II
Este nobre feito do heroico português, que vem referido a pág. 87 da nossa edição, tem já inspirado vários pintores portugueses como se pode ver das reproduções saídas em tempo na Revista Illustrada, publicação devida aos esforços do malogrado editor A. M. Pereira. Roque Gameiro, porém, como artista de raça que é, quis, inspirado no grandioso feito, fazer composição sua, dando-lhe interpretação diversa da que fora dada pelos seus ilustres colegas. O público é o único juiz nestes casos de crítica artística; e ele dirá se realmente a Roque Gameiro cabe a palma neste certâmen de arte.
 
 
Pág. 125 - D. Mecia Lopes de Haro, mulher de D. Sancho II
A indicação com que completamos a epígrafe desta gravura supre qualquer explicação sobre a autenticidade deste retrato. Mais autêntico supomos que não o poderia ser.
 
 
Pág. 129 - Rapto da rainha D. Mecia Lopes de Haro
A págs. 86 e 87 da nossa edição encontra o leitor uma rápida descrição deste vergonhoso facto da nossa história - vergonhoso, ainda que só macule a memória dos seus autores - que inspirou a Roque Gameiro a interessante composição artística que aí fica.
 
 
Pág. 133 - D. Afonso III
Como sucede infelizmente a um grande número dos reis da primeira dinastia, também de Afonso III, esse inteligente e astucioso monarca, não há monumento em que tenha sido perpetuada a sua figura. Foi pela leitura das crónicas e dos monumentos coevos que o nosso ilustrador ressuscitou a figura do ambicioso e infatigável príncipe.
 
 
Pág. 137 - Templários: trajo religioso - trajo de guerra
Mais uma vez o nosso director artístico revela neste trabalho a consciência com que se tem presado em ilustrar a nossa edição, de modo a poder ficar um monumento perdurável a que os que mais tarde precisarem de ilustrar livros de história sejam obrigados a recorrer para levarem a termo os seus trabalhos. Para se darem a público essas duas figuras foi precisa muita investigação, a fim de evitar as anomalias e os anacronismos de que andam cheios os nossos livros de história.
 
 
Pág. 141 - A condessa de Bolonha D. Mathilde, primeira mulher de D. Afonso III
É ainda a Simão Beninc que devemos o prazer de poder dar o retrato desta rainha. Vem ela representada na iluminura daquele artista dos princípios do século XVI, com uma criancinha ao lado, natu­ralmente seu filho. Sendo nosso fito dar simplesmente o retrato da gentil princesa, Roque Gameiro, com a sua fina intuição artística, conseguiu reproduzir, dando-lhe mais vida, esse curioso retrato, que tam­bém encontramos reproduzido, com todos os acessórios, no livro do sr. Benevides, Rainhas de Portugal.
 
 
Pág. 145 - Mosteiro de Leça do Bailio
É um dos mais vetustos monumentos góticos de Portugal, e fica situado num dos pontos mais risonhos de Portugal, à margem do poético Leça, a umas duas léguas ao norte do Porto. Era dever numa história do nosso país reproduzir pela gravura esse velho monumento, notável pela sua antiguidade e pela correcta perfeição do seu estilo.
 
 
Pág. 149 - D. Beatriz de Gusmão, segunda mulher de D. Afonso III
Ainda um retrato autêntico este, pois que é feito sobre a excelente gravura apresentada no livro Retratos e elogios de varões e donas, e reproduzido no livro do sr. Benevides Rainhas de Portugal e muito anteriormente (em 1840) no Museu pitoresco.
 
 
Pág. 153 - Morte de D. Afonso III
Inegavelmente o espírito do público é atraído para a leitura de um livro, pelas estampas de que ele vem adornado. Não nos parece demais dar esta cena tão magistralmente descrita pelo nosso autor a pág. 111 e tão brilhantemente interpretada pelo nos­so colaborador artístico, que se não esquece do mais pequeno acessório para lhe dar toda a autenticidade requerida em publicações que se destinam a ilustrar o público no conhecimento dos costumes e interiores dos primeiros tempos da monarquia.
 
 
Pág. 157 - O Mestre dos Templários, Paio Peres Correia
Bastante referência se faz no decurso dos pri­meiros capítulos da nossa história a este leal e deno­dado capitão português. Retrato dele só conhecíamos o que veio em tempo estampado no Museu Pit­toresco (1840), e esse foi aproveitado para uma aguarela pelo ilustrador desta publicação.
 
 
Pág. 160 - Trajo civil no século XII
Para nos não repetirmos, apenas pedimos ao público que aplique a este desenho o que deixámos dito a propósito da nossa gravura de pág. 137 (Templários: trajo religioso, trajo de guerra).
 
 
Pág. 161 - D. Diniz
Foi sobre a sua estátua tumular existente em Odivelas, e que mais adiante damos completa, que se desenhou a fisionomia expressiva deste monarca, talvez o mais simpático da primeira dinastia.
 
 
Pág. 165 - Ruínas do castelo de Óbidos
Duma magnífica fotografia de Carlos Rel­vas, aguarelada por Gameiro, se reproduziram essas pitorescas ruínas dum castelo a que andam ligadas tão brilhantes tradições dos primeiros tem­pos da monarquia.
 
 
Pág. 169 - D. Diniz e o seu mestre Aymeric d'Ébrard
Sempre que não havia facilidade de alcançar retratos de homens celebres, evitámos esse escolho dando cenas, em que os costumes das épocas historiadas auxiliassem os leitores a compreender bem os assuntos de que se tratava. Assim, não havendo facilidade em alcançar um remito de Aymeric d'Ébrard, o ilustre mestre de D. Diniz, Roque Gameiro criou a excelente composição que o público tem na sua presença, e que tão clara ideia nos dá do mobiliário e outros adornos das casas medievais.
 
 
Pág. 173 - D. Afonso Sanches
É delineado sobre a estátua jacente do seu túmu­lo existente no mosteiro de Vila de Conde o retrato que aqui damos deste heroico filho de D. Diniz.
 
 
Pág. 177 - D. Isabel de Aragão, a rainha santa, mulher de D. Diniz
Diz-nos José da Cunha Taborda a pág. 143 do seu interessante livro Regras da Arte da Tintura, dando conta do que referem Fr. Luiz de Sousa, Brandão, Lacerda e Fr. Pedro Monteiro, que na galeria do marquês de Borba havia um quadro de Reis Magos mandado pintar por D. Diniz, tendo ao centro uma imagem de Nossa Senhora, da qual foi mandado copiar o retrato da rainha Santa Isabel que vem na colecção dos Varões e Donas, por se dizer que «nele estava tirada ao natural a mesma Santa Rainha». Nós preferimos ir mais longe e quisemos que o retrato tivesse mais autenticidade; mandámo-lo fazer pela magnífica estátua jacente do seu antigo túmulo actualmente em Santa Clara de Coimbra, e de que mais adiante damos a reprodução por inteiro.
 
 
Pág. 181 - Páteo das Escolas Gerais em Lisboa
Nem já o pouco que aí se vê nesta estampa resta desse edifício, onde, segundo reza a tradição, esteve instalada a Universidade num dos períodos em que teve sua sede em Lisboa, como na notícia sobre a Universidade, que adiante damos, o leitor verá.
 
 
Pág. 185 - Ruínas do mosteiro de Paço de Ferreira
Mais um monumento da velha arquitectura gótica que tão brilhantes espécimes deixou na Península. É coevo dos primeiros tempos da monarquia e fica situado num dos mais pitorescos sítios do poético Minho. Esta gravura é reprodução de fotografia especialmente tirada para a nossa edição.
 
Pág. 189 - Ruínas do antigo mosteiro de Santa Clara
Já porque é um monumento antigo, e que as areias trazidas pelo Mondego vão pouco a pouco soterrando, de modo que dentro em breve nem ves­tígios dele se encontrarão, já porque lhe anda ligado o nome da sua fundadora, esse poético nome de rainha santa, dever nosso era dá-lo aqui, em gravu­ra, e segundo fotografia fiel que expressamente mandámos tirar e depois aguarelar.
 
 
Pág. 193 - A rainha Santa Isabel, separando os dois exércitos no campo de Alvalade
É esta decerto uma das mais inspiradas composições artísticas de Roque Gameiro, reproduzindo a cena talvez mais brilhante em que se fez sentir a doce influência da santa rainha. A sua descrição encontra-se a pág. 180 da nossa edição.
 
 
Pág. 197 - Padrão do Campo Pequeno
Ainda que não tenha nada de artístico, é ele representativo do facto que acima fica referido e, portanto, tem todo o cabimento na nossa História a sua reprodução pela gravura. A inscrição que se entrevê através das grades é como segue:
SANTA IZABEL, RAINHA DE PORTUGAL, MANDOU COLOCAR ESTA PEDRA NESTE LUGAR EM MEMÓRIA DA PACIFICAÇÃO QUE NELE FEZ ENTRE SEU MARIDO, EL-REI D. DINIZ, E SEU FILHO D. AFFONSO IV, ESTANDO PARA SE DAR EM BATALHA NA ERA DE 1323.
Este padrão, vê-se bem pela forma da escrita como pela era indicada, 1323, que foi colocado muito posteriormente; pois que a era apontada é a de Cristo, quando no tempo de D. Diniz se con­tava ainda pela era de César, sendo no ano 1361 desta que o acontecimento se deu.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pág. 201 - Universidade de Coimbra
A história especial da monumental instituição está magistralmente feita em ponderoso tratado escrito por um dos mais eruditos e probos escritores dos tempos presentes, o sr. dr. Teófilo Bra­ga. Sendo, porém, nosso intuito apenas dar uma ligei­ra ideia dela, cingirnos-emos, e é bastante para uma simples nota, ao que a esse respeito diz João Baptista de Castro no seu tão precioso livro Mappa de Portugal, repositório copioso de antigualhas portuguesas:
«Governando já el-rei D. Diniz, príncipe amante das letras, empreendeu fundar neste reino casa fi­xa à sabedoria, e evitar o grande descommodo, que os naturais padeciam em ir mendigar dos estrangei­ros muitas ciências, que na pátria podiam aprender; e assim consentir que alguns prelados nos mostei­ros e igrejas do reino se congregassem na vila de Montemór-o-Novo, e determinassem em 12 de novembro de 1288 supplicar uniformemente ao papa Nicolau IV o indulto apostólico de se poder erigir uma universidade de letras em Portugal. Chegou a supplica a Roma, e em 12 de agosto de I280 expediu o pontífice a bulia para o estudo geral de Lisboa com amplos privilégios, e el-rei assinou para se fundarem estes utilíssimos estudos o sítio chamado da Pedreira, no bairro de Alfama junto às portas da Cruz da Moeda Velha. Ali se ensinavam leis, cânones, lógica, musica, grammatica, e medici­na. Não havia lentes de theologia, porque esta se aprendia nos conventos dos religiosos, nem tão pouco havia lentes de matemática, nem das línguas hebraica e grega, como erradamente escreveu o padre Purificação. Permaneceu esta Universidade em Lisboa dezoito anos, quando no de 1007, representando el-rei D. Diniz ao Papa Clemente V as grandes discórdias, que havia entre os moradores e os estudantes aos quais difficilmente se podiam serenar, lhe expoz, que a cidade de Coimbra pelo delicioso do sitio, pe­la abundância de mantimentos, e por ficar no cora­ção do reino, parecia aparte mais opportuna, para onde se podia transferir a Universidade. Admittiu o papa benignamente a supplica, e mandou passar uma Bulia aos 26 de fevereiro de 1008, aplicando para sustentação da Universidade e salários dos lentes os fructos de seis igrejas do padroado real, que suprimiu.
«Havia trinta anos que a Universidade residia em Coimbra, quando el-rei D. Afonso IV, resolvendo colocar a sua corte naquela cidade, ordenou no ano de 1338, que se mudassem as escolas geraes para Lisboa, afim de que os estudantes com o trafe­go e negócios dos cortezãos não se divertissem dos seus estudos. Restituída a Universidade outra vez ao seu primeiro berço, é verosímil que viria para as ca­sas da sua primeira habitação, e aqui persistiu so­mente quinze anos, pois no de 1357 consta, que o mesmo rei D. Afonso IV a fizera transplantar para Coimbra.
«No governo d'el-rei D. Fernando, e pelos anos de 1377 houve outra mudança da Universidade para Lisboa, por causa d'alguns mestres, que el-rei mandara vir de fora, que não queriam ler senão nesta ci­dade, e aqui permaneceu com grande protecção e pri­vilégios, que os soberanos reis lhe concederam; porém, como para subsistência dos lentes eram pequenas as rendas, e a promoção das cadeiras se fazia em pessoas de menos sufficiencia, acontecia que os estudantes desgostosos não frequentavam as aulas, e se experimentou uma conhecida decadência nas letras desde o ano de 1440 até o de 1480, como afirma João de Barros. Accudiu a esta ruína litteraria el-rei D. Manuel, o qual, como tão affeiçoado às ciências, fez no ano de 1496 novos estatutos à Universidade de Lisboa, edificou escolas novas no bairro de Alfama, abaixo de Santa Marinha, que ainda conservam hoje o no­me de Escolas-Geraes; acerescentou o ordenado aos lentes e o número das cadeiras, criando de novo a de Véspera de Theologia, a de Philosophia moral, e a de Astronomia. Succedeu no governo el-rei D. João III, insigne Mecenas dos eruditos, e parecendo-lhe Coimbra melhor sítio para os estudos públicos, os fez mudar ultimamente para aquela cidade no ano de 1537, e para que ali não só brilhassem as ciências e artes, mas se perpetuassem, fundou muitos colégios, por cujo augmento lhe chamaram alguns escritores instituidor, sendo propriamente reparador, e ilustrador daquela Universidade. A este respeito convidou à custa de grandes dispêndios os melhores homens de letras que havia na Europa, de sorte que restabeleceu em Coimbra a mais florente e nobilíssima Academia das Ciências, como testificou o insigne Clenardo escrevendo a João Vaseu admirado de ouvir ali ao mestre Vicente Fabrício explicar a Homero, como se na mesma Atenas o estivesse sendo».
 
 
Pág. 205 - Mosteiro de Cette
Ainda outro velho monumento da piedade cristã na Península. Segundo a tradição fora fundado por dois mouros convertidos, em 882, destruído em 963 pelos Árabes, reedificado três anos depois por D. Gonçalo Vasques. Tem uma larga história este mosteiro, que não vem para aqui narrar, e sobre ele há uma interessante monografia, encontrando-se além ainda bons elementos para essa história no Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal e ainda num artigo publicado em tempos no jornal O Século.
 
 
Pág. 208 - Arco de Odivelas
A este monumento de arquitectura gótica, a que o vulgo dá o nome de Memória, andam ligadas várias tradições, mas nenhuma delas nos fornece a data da sua fundação nem a indicação de qual o seu verdadeiro fim. No entretanto a mais razoável dessas tradições é a de que nos dá conta Fr. Francisco Brandão, dizendo que aquele arco correspondia a outro que existia à saída de Lisboa, e que se fizeram para neles descansarem o féretro de D. João I quan­do trasladado de Lisboa para a Batalha. O que é certo é que a cruz floreada que coroa a cúpula desse arco era distintiva da ordem de Aviz, de que D. João I era Mestre.
 
 
Pág. 209 - D. Afonso IV
Não havendo retrato autêntico deste monarca, recorreu o nosso ilustrador às crónicas e documentos coevos e foi sobre os apontamentos por eles fornecidos que delineou a enérgica e severa figura do pai de D. Pedro I.
 
 
Pág. 213 - Fachada de Santa Cruz de Coimbra
O que actualmente se vê é fundação de D. Manuel, princípio do século XVI, ampliada depois por D. João III. Mas o monumento primitivo, de que ainda restam vestígios lá dentro, foi fundado em 1131, por D. Tello, cónego arcediago da Sé de Coim­bra. A história deste monumento anda mais do que a de nenhum outro ligada à de Coimbra e até de Portugal, visto ser coeva da fundação da nossa nacionali­dade.
 
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Pág. 217 - Túmulo de D. Diniz, em Odivelas
Situado primitivamente ao centro da igreja, este túmulo do fundador do mosteiro foi passado para a banda da epístola, por tolher inteiramente às religiosas a vista do altar-mor, inibindo-as de assistir devidamente aos ofícios, donde, depois do terramoto de 1755, foi transferido para o local onde hoje se mostra. Foi este terramoto que o mutilou horrivelmente, pois que sobre o túmulo se precipitou a abóbada da igreja. Foi a rainha D. Estefânia quem ordenou um dia essa reparação; mas, escreve Borges de Figueiredo na sua esplêndida monografia O Mosteiro de Odivelas, reparação foi essa, que me­lhor se pode chamar atentado. Fizeram ao rei D. Diniz uma cabeça de gesso, com uma barba muito penteada e frisada, mãos e pés de gesso também, etc., sendo lançado à margem um pedaço do rosto da primitiva estátua tumular que foi escondida como material entre o gesso. Destas barbaridades encon­tram-se às centenas em Portugal. As faces do túmu­lo essas é que são primitivas e reveladoras do altís­simo gosto arquitectónico da época.
 
 
Pág. 221 - Arco de Almedina
Desconhece-se a data da construção deste arco, que, pela sua fábrica de cantaria, pela sua grande al­tura, pelo seu fecho em ogiva e pela sua aparência de antiguidade apresenta um caracter de imponência e respeitabilidade. Sob este arco estão esculpidas as armas do reino, a imagem da Virgem e o brasão da cidade, tudo ali mandado lavrar por D. Manuel. É sem dúvida uma das mais interessantes curiosida­des da velha Coimbra.
 
Pág. 224 - D. Fernão Sanches, filho de D. Diniz
Tem o alto valor de ser inédito o retrato que hoje damos deste filho bastardo de D. Diniz; encontra-se, muito bem tratado, no museu do Carmo em Lisboa, para onde fora trasladado de S. Domingos das Donas, em Santarém, onde Fernão Sanches fora enterrado. É curiosa esta estátua tumular, por ser a única que se conhece em que o personagem representado está deitado de lado. A sua curiosidade avulta ainda se dissermos ao leitor, que o ignora, que estando a estátua de lado, foi esculpida como se fosse para ficar de costas, visto que a figura apresenta todos os contor­nos como se feita fora para aquele fim.
 
 
Pág. 225 - Condução do féretro da rainha Santa Isabel
Esta composição de Roque Gameiro, tão expressiva e tão pitoresca, foi aguarelada segundo a magnífica descrição, em que não falta o mais pequeno pormenor, feita pelo ilustre lente da Universidade, sr. Dr. António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, na sua erudita monografia sobre D. Isabel de Aragão.
 
 
Pág. 229 - Mosteiro de Alcobaça
Principiado em 1148, só no século XVII terminou a sua construção, que durou, portanto, cinco sécu­los; por isso ele se ressente de todas as arquitecturas - não tendo caracter nenhum especial. É um dos maio­res edifícios de Portugal, e tudo nele é monstruoso: tem cinco grandes claustros, sete dormitórios; a cozinha era a melhor de Portugal; atravessava-a um braço do Côa que lavava o seu pavimento de lajes de pedra, saindo depois para grandes reservatórios onde havia muita quantidade de peixe. A gravidade do lugar não nos permite fazer os comentários, que este assunto nos está sugerindo e fazendo acudir aos bicos da pena.
 
 
Pág. 232 - Túmulo de prata da rainha Santa Isabel
Quando, em meado século XVII, se pensou em edificar o novo convento de Santa Clara de Coimbra, a fim de para ele ser trasladado o corpo da rainha Santa, visto o antigo mosteiro se ir submergindo sob as areias arrastadas pelo Mondego, o bispo conde D. Afonso de Castelo Branco mandou construir, para nele ser colocado o precioso cadáver, um riquíssi­mo mausoléu de prata e cristal, que importou em quinze mil cruzados. É este cofre que a nossa gra­vura representa.
 
 
Pág. 233 - Túmulo antigo da rainha Santa Isabel
Ao ver-se o caminho que ia levando o antigo mosteiro de Santa Clara, e receando perder-se o preciso monumento que primeiro contivera o corpo da rainha Santa, houve o cuidado de o transportar para o novo mosteiro onde ainda se admira. É um belo trabalho artístico e duma alta antiguidade, supondo-se que fora mandado fazer pela própria rainha D. Isabel. As suas faces laterais são guarnecidas de várias imagens e estatuetas de delicadas esculturas. Na parte superior vê-se a estátua jacente da rainha santa, vestida com o seu hábito de freira, com coroa real na cabeça e nas mãos o bordão e bolsa de peregrino. É, no género, o túmulo mais no­tável de Coimbra.
 
Pág. 237 - Janela Verde, em Lamego
Como é de uma grande beleza arquitectónica a janela que o público está admirando, e duma alta antiguidade ainda que decerto mais moderna do que a época que o povo lhe atribui, dizendo pertencer a uma casa em que residiu D. Afonso Henriques - tradição talvez ligada à das celebradas cortes de Lamego -, eis o motivo por que a reproduzimos pela gravura.
 
 
Pág. 240 - D. Maria Afonso, filha natural de D. Diniz
A legenda que a nossa gravura apresenta dis­pensa qualquer outra indicação. Simplesmente dire­mos que este retrato é inédito; porque, além da gravura representativa do túmulo que aparece no livro O Mosteiro de Odivelas, em que mal se divisa de perfil o rosto desta personagem, não há notícia da sua reprodução, pelo desenho, em mais parte al­guma. A vida desta filha de D. Diniz, que foi depois freira professa em Odivelas, acha-se envolta no mistério, não se sabendo ainda bem qual fora sua mãe. Naquele mosteiro havia um altar por ela mandado fazer em 1350, em honra de Deus e do gloriosíssi­mo santo André apostolo, diz uma inscrição latina que se descobriu naquele mosteiro.
 
 
Pág. 241 - D. Beatriz, mulher de D. Afonso IV
O retrato que damos é uma criação do nosso ilustrador, que para a delinear teve que ler o que disseram os velhos cronistas sobre os traços fisionómicos e figura da gentil mulher de D. Afonso IV.
 
 
Pág. 245 - Sé Velha de Coimbra
Monumento coevo da monarquia, fora primitivamente mesquita mourisca, convertida em templo cristão, que os Mouros, reconquistando a velha cidade, destruíram, sendo reconstruída só depois da sua expulsão no século XII. Não é aqui o lugar próprio para a descrição do extinto templo, acerca do qual se encontra uma curiosíssima notícia no livro do sr. Augusto Mendes Simões de Castro, Guia Histórico do Viajante em Coimbra e seus arredores.
 
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Pág. 249 - Batalha naval nas alturas do Cabo de S. Vicente
Encontra-se a pág. 213 deste volume a descrição do sangrento combate, que Roque Gameiro tão bem soube interpretar pela aguarela, procurando para isso os mais vetustos documentos em que se encon­trava a descrição dos antigos barcos de guerra da península.
 
 
Pág. 253 - Bartolomeu Johannes
Ainda que na nossa História se não faça menção deste personagem, acerca do qual se encontram interessantes pormenores históricos no Panorama, pareceu-nos que seria uma surpresa agradável ao público o aparecimento da sua figura, copiada do seu magnífico túmulo que se encontra na primeira capela à esquerda da Sé de Lisboa; o túmulo é do tempo de D. Diniz, em cuja época viveu Bartolomeu Johannes.
 
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Pág. 257 - Batalha do Salado
Lendo-se a magistral descrição, feita por Manuel Pinheiro Chagas a pág. 221 da nossa edição, desta batalha, uma das mais gloriosas para as armas portuguesas, vê-se com que cuidado e atenção Roque Gameiro estudou o assunto, para com tanta verdade nos dar a composição que temos presente.
 
 
Pág. 261 - Torre da Lapela
Não nos querendo cingir aos factos históricos, e compreendendo que num livro da índole do que estamos publicando, fica bem a reprodução de todos os antigos monumentos portugueses, não hesitámos em mandar reproduzir esta torre, a que D. António da Costa chama a Torre de Belém do Minho, que tem sete séculos, e que é o resto apenas dum velho castelo, estilo militar, do século XII, destruído em 1706 para as obras de defesa de Monção, perto da qual se ergue ainda majestosa.
 
 
Pág. 265 - D. Constança, primeira mulher de D. Pedro I
Está ali naquela fisionomia macerada bem pa­tente toda a vida de angústia da esposa de D. Pedro I, que, arrebatado pelos encantos de D. Ignez de Castro, se esquivava aos seus carinhos, para se en­tregar todo à sua paixão devoradora pelo Collo de Garça. Retrato autêntico de D. Constança, não nos consta que haja nenhum.
 
 
Pág. 269 - Claustro do mosteiro de Celas
Ressalta deste velho monumento português toda o pitoresco e toda a originalidade das construções do século XVIII, pois que foi fundado este celebre mosteiro pela filha de D. Sancho I, D. Sancha, que aí viveu e morreu santamente. É um belo documento para a história das ordens religiosas em Portugal este velho mosteiro
Ver original:
Pág. 273 - D. Ignez de Castro
A indicação que segue a epígrafe deste retrato dispensa-nos de qualquer referência quanto à sua proveniência, que é tudo quanto há de mais autêntico. Para conhecer a história deste simpático vul­to de mulher, é ler os brilhantes capítulos cheios de poesia e de verdade do nosso historiador.
 
Pág. 277 - Castelo de Almourol
Parece ter sido obra dos Romanos ou dos antigos Lusitanos o velho castelo que em 1160, D. Gualdim Paes encontrou em ruínas, e que ele reedificou quase pelos fundamentos, aproveitando os materiais do antigo castelo. Está pitorescamente situado sobre um ilhéu de rochedos, a meio do Tejo, perto da Bar­quinha, a 15 quilómetros de Tomar.
 
 
Pág. 281 - D. Ignez de Castro, implorando perdão a D. Afonso IV
Parece-nos que não podia ser mais bem interpretado do que foi pelo nosso ilustre aguarelista este primeiro acto da tragédia, que terminou pela morte da malograda Ignez de Castro. Encontra-se a pág. 242 da nossa edição a descrição desta emocionante cena.
 
 
Pág. 285 - Restos da antiga casa da câmara de Bragança
Não é fácil marcar a época da fundação deste monumento, que pertence aos antigos factos de Bragança. Parece ter sido construção visigótica; serviu algum tempo de paço aos duques de Bragança enquanto não se construiu o que se vê em ruínas; depois passou a servir de paços do concelho. Era uma antiga arcaria aberta, que mais tarde foi tapada, a que, por fim, reinando D. Maria I, uns vereadores quiseram dar maior beleza, mandando rasgar umas grandes janelas de sacada, com que ficou corta­da a galeria e destruídos alguns dos arcos.
 
 
Pág. 288 - Fonte dos Amores, em Coimbra
Dispensa qualquer explicação esta gravura, que se justifica por ser ali que se passaram algumas das cenas daqueles amores, que deram em resultado a morte trágica de Ignez de Castro.
 
Ver original:
Pág. 289 - Assassínio de D. Ignez de Castro
Reproduzir pela aguarela este vergonhoso crime da história pátria era assunto de grande responsabilidade, de que, afigura-se, o nosso aguarelista se saiu brilhantemente, fugindo à forma clássica por que outros artistas a têm interpretado. A trágica morte da formosa Ignez encontra-se descrita a pág. 243 da nossa edição.
 
Pág. 293 - Ruínas do Castelo de Óbidos
Parece ser de origem romana o velho castelo que a nossa gravura representa, e que está edificado no cume do monte, sobre o qual foi fundada a vila. Ain­da se conserva, sem grande ruína, a sua velha cinta de muralhas. O castelo é guarnecido de torreões e, apesar de bastante arruinado, é um dos mais bem conservados do nosso país.
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Pág. 297 - D. Pedro I, o Justiceiro
Ao que se lê na epígrafe desta gravura - retra­to feito sobre a sua estátua tumular em Alcobaça - nada há a acrescentar, senão que é uma das melhores ressurreições realizadas pelo nosso aguarelista.
 
 
Pág. 301 - Sé de Braga
É templo notável pela sua antiguidade e magnificência, pois que já foi reedificado em 1100 pelo con­de D. Henrique e por sua mulher D. Tareja; mas as reconstruções que depois se lhe fizeram são tantas que da obra do conde D. Henrique poucos vestígios restam. A sua construção primitiva é antiquíssima e já data do tempo dos Romanos.
 
 
Pág. 305 - Suplício dos assassinos de D. Ignez de Castro
Seguindo conscienciosamente a narração, feita pelo velho cronista Fernão Lopes, deste temeroso casti­go cominado pelo vingativo Pedro I aos assassinos da sua Ignez, o nosso ilustrador revelou mais uma vez nesta composição a sua bela intuição artística e o cuidado com que estudou a época cujos costumes se propôs representar pela aguarela. A descrição deste suplício vem a pág. 250 da nossa História.
 
 
Pág. 309 - Sé de Viseu
É também um dos mais vetustos monumentos de Portugal este templo que, se não é dos mais amplos, é, contudo, dos mais ricos em decorações de pedra, talha e pintura, e sobretudo de um gosto singular na sua formosa arquitectura interna. Não se sabe bem qual a data da sua fundação, que remonta a tempos anteriores à fundação da monarquia; mas, como sucede com a Sé de Braga, são tantas as modificações, alterações e reconstruções que tem sofrido, que quase nada resta da sua primitiva edificação.
 
 
Pág. 313 - D. Pedro I, mandando reconhecer D. Ignez depois de morta como rainha
O autor da nossa História duvida, baseando-se para isso em factos dignos de toda a ponderação, de que esta cena teatral preparada pelo fantástico D. Pedro I pudesse realizar-se; no entanto, a cena é de si tão sugestiva, que, apesar de tudo, não podemos esquivar-nos ao prazer de a apresentar ao público, quando mais não fosse senão para enriquecer a nossa edição com mais uma brilhante com­posição do nosso ilustre director artístico.
 
 
Pág. 317 - Igreja de Roriz
Não se sabe quando nem por quem foi fundado o mosteiro de que esta igreja faz parte; mas o que é certo é que já existia em 887, reinando em Portugal e Galiza D. Afonso, o Magno, por quem foi doado à condessa Muma Dona; mais tarde tornou à co­roa, sendo doado em 1173 por D. Afonso Henriques aos frades crúzios, vindo, depois de conhecer muitos donatários, parar às mãos dos jesuítas, e passando em 1350, pela expulsão destes, para a Universidade de Coimbra, que o vendeu mais tarde. É a matriz da freguesia.
 
 
Pág. 320 - O Cronista Fernão Lopes
Conhecida de todos a consciência e tenacidade com que Victor Bastos, o arquitecto do monumento erguido em 1867 em Lisboa ao grande épico português, rebuscou arquivos e estudou documentos para poder reproduzir pela pedra os oito grandes cronistas e poetas que precederam Camões, para com suas estátuas adornar o pedestal do maior poeta da Península, nada há que dizer sobre a autenticidade do retrato, que damos, em gravura e que é a sim­ples reprodução do belo trabalho do sr. Victor Bastos.
 
 
Pág. 321 - D. Pedro I, açoitando o Bispo do Porto
Esta aguarela vem para ilustrar aquela característica cena contada a pág. 283 da nossa edição, que mais claramente se compreende quando assim vista representada pelo desenho.
 
 
Pág. 325 - Túmulo de D. Ignez de Castro, no mosteiro de Alcobaça
Querendo D. Pedro I perpetuar a memória dos seus amores com aquela que, depois de morta, foi rainha, mandou erguer na segunda nave do cruzeiro da igreja de Alcobaça este mausoléu para encerrar os restos da sua formosa Ignez, ao lado do que para si ele mandara construir. São ambos de mármore branco, ornamentados de decorações de estilo gótico, de muitos quadros de meio relevo de assunto religioso, e de grande cópia de santos metidos em nichos. Cada um deles assenta sobre seis leões e tem deitada em cima da tampa a figura de Ignez de Castro, um, e de D. Pedro I, o outro. O túmulo daquela tem, na parte superior, em volta da tampa, uma cercadura em que avultam alternados o brasão dos Castros, de seis arruelas, e o escudo das armas reais portuguesas. O de D. Pedro difere apenas na estátua e em ter a cercadura em volta da tampa formada de escudos das armas reais e de arabescos, na composição dos quadros em meio relevo e nas ima­gens dos santos metidos nos nichos.
 
 
Pág. 329 - Sé do Porto, do lado do Norte
É bastante pitoresca a fachada deste velho monumento da arte cristã na Península, mas a estreiteza da rua em que se encontra não dá lugar a que se possa reproduzir pela fotografia, não podendo nós portanto dar a fachada, contentando-nos em apresentar esta parte, única que se pode fotografar, e que contudo bastante curiosa é, porque ainda nela se veem as ameias, restos do antigo as­pecto meio guerreiro meio religioso dos antigos templos de Portugal. Foi construído este edifício pelo conde D. Henrique e sua mulher, em 1103, so­bre o local onde estava o primitivo templo, fundado, ao que parece, em 570, destruído pelos Árabes em 786, novamente reconstruído pelo bispo D. Nónego, até que, caindo em ruínas, o conde D. Henrique o mandou erguer naquela data.
 
 
Pág. 333 - Igreja de Santa Maria do Olival, em Tomar
Está situada fora da cidade, na margem oposta do Nabão, e foi cabeça da ordem dos templários, primeiro, e, desde 1309, da ordem de Cristo. É de arquitectura gótica, mas de simples construção. Estão ali sepultados os mestres daquelas duas ordens.
 
 
Pág. 336 - Torre de Pedro Sem, no Porto
É um monumento medieval, todo de cantaria, com suas janelas em ogiva, cuja verdadeira data de fundação se não conhece, e à qual anda mais ou menos ligada a lenda de Pedro Sem, tão conhecida em todo o país. Sobre esta torre e sobre a lenda escreveu o sr. Sousa Viterbo um curiosíssimo artigo no Bran­co e Negro, publicação feita pelo malogrado editor António Maria Pereira.
 
 
Pág. 337 - D. Pedro, dançando nas ruas de Lisboa
É Fernão Lopes, o velho historiador, quem na sua bela Chronica de D. Pedro 1, dando-nos conta das costumeiras do popular soberano, nos refere o episódio, que a nossa gravura representa, episódio cuja descrição vem reproduzida a págs. 285 da nossa edição da História.
 
 
Pág. 341 - Túmulo de D. Pedro I, em Alcobaça
Para inteligência desta gravura, basta ler o que ficou dito quando tratámos do túmulo de D. Ignez de Castro.
 
 
Pág. 345 - Sé de Lamego
É um dos antigos monumentos de Portugal mais bem conservados; velho templo de arquitectura gótica de três naves, tem dentro de si alguns túmulos e sepulturas muito notáveis e antigas.
 
 
Pág. 349 - S. João de Alporão
A legenda que acompanha esta gravura diz o bastante para se apreciar qual o valor deste velho monumento da arquitectura árabe na Península. É actualmente o museu arqueológico do distrito de Santarém, e não nos parece que se lhe pudesse dar mais apropriada aplicação.
 
Pág. 353 - D. Fernando I
Parece que data do tempo de D. Manuel o esplêndido retrato daquele monarca, existente no refeitório do convento dos Jerónimos, donde foi copiado o que aqui apresentamos aos leitores. Não se conhece retrato mais autêntico do último monarca da dinastia afonsina.
 
 
Pág. 357 - Igreja de Almacave, em Lamego
Construída, segundo a tradição, no século VIII, por um mouro assim chamado, para mesquita árabe, foi mais tarde purificada e convertida em templo cristão. Foi a Sé do tempo dos Suevos e Godos e é de muito singela arquitectura, como aliás são todos os monumentos da primitiva piedade cristã.
 
Pág. 361 - D. Leonor Teles, mulher de D. Fernando I
Não havendo retrato algum autêntico desta criatura, tão desonesta como ambiciosa, força era criá-lo, o que Roque Gameiro fez com a maestria com que o ilustre artista sabe desempenhar-se de todos os trabalhos que lhe são confiados; pois que cingin­do-se aos apontamentos históricos sobre o caracter e fisionomia de D. Leonor, ele soube imprimir-lhe todo o aspecto de sensualidade, de astucia, de altivez e de orgulho, que eram os característicos da sua índole.
 
 
Pág. 365 - Túmulo de D. Fernando
Este mausoléu, que é uma das mais brilhantes obras de arte do século XIV, esteve durante perto de cinco séculos no coro da igreja do extinto convento de S. Francisco, em Santarém. Profanado e mutilado durante a invasão francesa em 1810, e no tempo das nossas guerras civis, acha-se actualmente no Museu Arqueológico do Carmo, donde foi reproduzido para figurar neste livro, como era de direito.
 
 
Pág. 368 - Assassínio dos filhos de Afonso Lopes, em frente do Castelo de Samora
A brilhante descrição deste feito dum português ilustre, feito que uns classificam de cruel, outros de heroico, vem a págs. 308 de nossa edição, e o seu assunto constituí um dos mais interessantes capítulos da bela Chronica de D. Fernando, por Fer­não Lopes.
 
 
Pág. 369 - Lopo Fernandes Pacheco
Foi grande privado de D. Afonso IV este personagem cujo retrato, que nos é dado nos Retratos e Elo­gios de Varões e Donas, é tirado da «sua imagem que em vulto o representa ao natural» na antiga Sé de Lisboa. Este seu túmulo vem também reproduzido a pág. 453 da nossa edição.
 
Pág. 373 - Igreja de Cedofeita, no Porto
Só pela sua antiguidade se recomenda esta igreja, que foi fundada no ano 559 por Teodomiro, rei dos Suevos, por quem foi dedicado a S. Martinho, bispo de Tours. É de grosseira arquitectura gótica, baixa e com toscas esculturas, mas tem perto de mil e quinhentos anos de idade!
 
 
Pág. 377 - O infante D. João, assassina sua mulher, D. Maria Teles
O tecido de intrigas, baixas ambições e enredos que deram em resultado o repugnante crime representado pela nossa gravura, vem superiormente tratado pelo autor da História de Portugal, a pág. 453 da nossa edição.
 
 
Pág. 381 - Porta do palácio onde, segundo a tradição, foi assassinada D. Maria Teles
Pois que ainda existe, tornava-se complemento indispensável da gravura anterior, a reprodução desta porta do palácio de Sub-Ripas, em Coimbra, onde foi inocentemente assassinada por seu próprio marido a infeliz Maria Teles. Quando este palácio não fosse memorável por aquela tragédia, seria di­gno da atenção do amador de antiguidades e de belas-artes, pelo seu aspecto de vetustez, e pelos seus ricos trabalhos de escultura, que mereceram ao conde de Raczinsky uma muito particular atenção, no seu livro Les Arts en Portugal.
 
 
Pág. 385 - O alfaiate Fernão Vasques, falando ao povo
Pela verdade e minúcia com que vem tratada e pelo estudo que revela, pode considerar-se a cena que a nossa gravura representa, e que vem descrita a pág. 327 desta edição, como uma das mais perfeitas reconstruções conjeturais deste volume da História.
 
 
Pág. 389 - Afonso Eanes Penedo
Por lapso se não indicou, como é nosso uso em retratos idênticos, o lugar onde foi buscar-se o retrato deste enérgico procurador do povo em pleno século XIV. É cópia do que existe pintado no tecto do salão nobre dos Paços do Concelho em Lisboa.
 
 
Pág. 393 - Fonte das Figueiras, em Santarém
Sendo nosso intuito reproduzir em nossa edição todos os monumentos arqueológicos do país, pareceu-nos não ficar descabida a reprodução deste, existente próximo de Santarém, de antiga construção e restaurado no século XVI por D. Manuel.
 
 
Pág. 397 - Porta do Moniz, no castelo de S. Jorge
Esta porta é um dos poucos vestígios ainda existentes da primeira muralha de Lisboa, e foi por ela que, segundo a tradição, entrou a hoste portuguesa, passando por sobre o cadáver de Martim Moniz, conforme fica contado a pág. 347 deste volume.
 
 
Pág. 400 - Combate naval no porto de Saltes
Mais uma vez se revelou o engenho e o acurado estudo do nosso ilustrador, ao reproduzir pelo lápis a cena representativa de uma batalha naval, para o que de poucos elementos se pode dispor. Sobrou-lhe em intuição o que lhe faltou em documentos para delinear o quadro que temos em nossa frente. A descrição a que se refere a gravura vem a pág. 310 da nossa edição.
 
 
Pág. 401 - D. Frei Álvaro de Castro
Ainda que a nossa história não mencione este personagem, não podíamos deixar de dar aqui o retrato do virtuoso padre, que foi confessor de D. Pedro I, reformador da ordem militar de Aviz, e passou os últimos anos da sua vida vivendo retirado na serra de Sintra, onde faleceu em 1456. O retrato que da­mos é tirado do que existia na casa do De Profundis do convento de Santarém, donde foi fielmente copiado para o livro Retratos e Elogios de Varões e Donas, donde o nosso foi extraído.
 
 
Pág. 405 - Porta da Tamarma
Das oito antigas portas de Santarém, aquela que a nossa gravura reproduz era a primeira, e, segundo a tradição, foi por ela que entrou D. Afonso Henriques, quando tomou Santarém aos Mouros. Esta por­ta havia sido construída pelos Mouros, e sobre ela, em memória do seu feito, mandou o primeiro monarca erguer uma ermida que apelidou de Nos­sa Senhora da Victoria. O camartelo municipal de­moliu esta porta em meados do presente século, mas por felicidade alguém de bom gosto tivera cui­dado em a copiar em tela, o que nos proporciona a felicidade de a apresentarmos ao público, perpetuan­do assim a memória dum heroico feito português.
 
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Pág. 409 - Antigo paço das Alcáçovas (Castelo de S. Jorge)
Velhas gravuras existem representando o antigo castelo de Lisboa, em cujo recinto se concentrava quase toda a cidade conquistada por D. Afonso Henriques. Nenhuma, porém, havia, em que se pudesse distintamente ver as linhas pormenorizadas do vetusto mo­numento. Com a sua intuição artística, Roque Gameiro sobre essas gravuras conseguiu reconstruir o velho edifício, dando-nos o excelente desenho que aí fica, e que deve ser decerto o ponto de partida para trabalhos de índole idêntica.
 
 
Pág. 413 - Pórtico da igreja da Graça
Fundado em 1376, pelo conde de Ourem, este edifício é um dos mais elegantes e distintos de Santarém. Tem uma bela igreja gótica de três naves. Encerra várias sepulturas de personagens notáveis, entre os quais, o do fundador e de sua mulher, o de D. Leonor de Menezes, filha do conde de Ourem, o de D. Afonso de Vasconcelos de Menezes, conde de Penela, o de Pedro Álvares Cabral, o de sua mu­lher D. Beatriz, etc.
 
 
Pág. 417 - O infante D. Diniz, recusando beijar a mão a D. Leonor Teles
O velho brio e nobre pundonor português vê-se que ainda o não haviam conseguido obliterar de todo as devassidões da corte de D. Fernando. A cena, tão belamente interpretada pelo nosso desenhador, vem descrita a pág. 330 da nossa edição.
 
 
Pág. 421 - D. Pedro, conde de Barcelos
Ainda que já um pouco deslocado não podíamos deixar de dar o retrato deste ilustre personagem histórico, o das Sete partidas. É inédito este retrato, e foi feito sobre a fotografia que da sua estátua tumular, existente no convento de Tarouca, nós mandámos tirar expressamente para a nossa publicação. Não se imagina as dificuldades com que lutámos para alcançar esta fotografia, bem como tantas outras que damos nesta nossa edição. A massa de esforços empregados para a consecução de alguns retratos e monumentos que damos na nos­sa obra só a saberão apreciar aqueles que sabem as contrariedades e os entraves que a todos os momen­tos se encontra para produzir alguma coisa que saia fora dos velhos processos de rotina.
 
 
Pág. 425 - Castelo de Bragança
Este edifício onde, segundo diz o padre Cardoso, podiam manobrar muito à vontade mil combatentes, é um dos mais bem conservados do país. Parece que foi fundado por D. Diniz, no fim do século XIII, mas foi depois ampliado em 1390 por D. João I, cujas ar­mas lá se veem num dos panos das suas muralhas.
 
 
Pág. 429 - Estátua tumular do conde de Barcelos, em S. João de Tarouca
A reprodução desta estátua é, para assim dizer, o complemento do retrato que damos a pág. 421. O que dissemos, ao referir-nos a este retrato, dispensa-nos de mais amplas informações.
 
 
Pág. 433 - A Sé de Lisboa, no século XVII
Publicando este desenho, além de apresentarmos um monumento que tanto figura nas páginas da nossa História, vulgarizamos uma vista muito pouco conhecida dos nossos leitores, que decerto, estimarão ver aqui reproduzida pela gravura o aspecto que apresentaria nos passados tempos a mesma Sé, coma sua torre alta donde foi arremessado, em tempo da regência de Leonor Teles, o bispo de Lisboa.
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Pág. 437 - Castelo da Feira
É um dos mais antigos da Península, atribuindo-se a sua construção aos Godos, pela forma da sua arquitectura e pelas suas seteiras em forma de cruz, pois que, se fora de construção árabe, essas seteiras apresentariam a forma de crescente. Encontra-se uma desenvolvida e curiosa notícia acerca deste castelo no Portugal antigo e moderno, livro precioso pelas indicações históricas que encerra.
 
Pág. 441 - João das Regras
O astuto conselheiro de D. João I é figura prima­cial do tempo deste monarca e havendo um tão belo documento histórico que lhe autenticasse os traços fisionómicos, era nosso dever reproduzir aqui o seu retrato, como fazemos. A estátua tumular donde ele é tirado existe no seu mausoléu construí­do dentro da igreja de S. Domingos de Benfica, às abas de Lisboa, mandada levantar por D. João I.
 
 
Pág. 445 - Mosteiro de S. João de Tarouca
Segundo a tradição, esta igreja foi a 7ª igreja paroquial que houve em Portugal. É de arquitectura normando-gótica, mas a sua fábrica tem já sofrido tantas modificações, que mal se lhe pode marcar época para a sua fundação. Em todo o caso, é notável, porque nela existe o mausoléu do conde de Barcelos, D. Pedro, ao qual já atrás nos referimos.
 
 
Pág. 448 - Túmulo de João das Regras
É monumento do século XIV e bem digno de ser conservado, porque nele estão encerrados os ossos dum dos jurisconsultos de maior fama que este país tem produzido e que tanto concorreu, com a sua palavra e com as suas luzes, para o estabeleci­mento da dinastia de Aviz. Como se lê na legenda que acompanha a epígrafe da nossa gravura, este mausoléu existe no convento de S. Domingos de Benfica, a uma hora de Lisboa.
 
 
Pág. 449 - Prisão do Mestre de Aviz
A pitoresca cena que a nossa gravura representa vem descrita a pág. 412 da História, onde o leitor tem ocasião de apreciar a cuidadosa verdade com que ela foi reproduzida pelo aguarelista.
 
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Pág. 453 - Túmulo de Lopo Fernandes Pacheco
A pág. 617 já dissemos o que se nos oferecia so­bre este personagem histórico, cuja fisionomia reproduzimos a pág. 369, e cujo túmulo, muito bem conservado, existe na Sé de Lisboa.
 
 
Pág. 457 - Pedro Eanes Lobato
O retrato deste personagem, cujo nome nos aparece citado na História, no princípio do segundo vo­lume, torna-se digno de figurar na nossa galeria, por que foi fidalgo ilustre que viveu nos reinados de D. Fernando, D. João I, D. Duarte e D. Afonso V. Dis­tinguiu-se pelo seu valor na batalha de Aljubarrota, sendo, antes dela começar, armado cavaleiro pelo próprio D. João I. Este retrato é feito sobre o que apresenta a celebre colecção, hoje já pouco vulgar de Retratos e Elogios de Varões e Donas, onde o autor do artigo que acompanha a gravura diz que deve esse retrato ao corregedor do bairro do Mocambo, João Lobato Quintino de Faria Barroso, «que o conserva em um quadro de pintura antiga, e do seu mesmo tempo».
 
 
Pág. 461 - Claustro da Sé do Porto
Esta parte da velha Sé do Porto, que é sem dúvida uma das mais grandiosas, foi mandada fazer em 1385 pelo bispo D. João III; para auxiliar a sua construção deu a Câmara do Porto mil pedras de cantaria lavradas. É formado de 304 colunas de pedra, tem as paredes forradas de azulejos com várias pinturas representando cenas da Bíblia.
 
er original:
Pág. 465 - Cena amorosa entre D. Leonor Teles e o conde Andeiro
Roque Gameiro foi de uma felicidade rara no modo flagrante porque apanhou esta cena, que o nosso historiador, cingindo-se à crónica do velho e pitoresco Fernão Lopes tão bem nos descreve a pág. 410 da nossa edição.
 
Pág. 469 - Álvaro Gonçalves Magriço
O facto brilhante e cavalheiroso que lhe deu a reputação de que goza é demasiado conhecido - até Camões o cantou, - para que nos demoremos aqui a narrá-lo ou a apreciá-lo. O retrato que adorna a nossa galeria é feito sobre o da colecção dos Retratos e Elogios de Varões e Donas, que acerca da sua proveniência nos diz apenas estas palavras: «Achámos o seu Retrato no Paço Velho.»
 
 
Pág. 473 - Sé de Évora
Riquíssima esta cidade em monumentos antigos de toda a ordem, especialmente do tempo dos Ro­manos, não podia a sua Sé deixar de ser grandiosa e magnífica. Efetivamente assim é, sendo este templo um dos mais venerandos de Portugal. É de duas naves e de majestoso frontispício como se vê pela gravura apresentada, e que é um dos restos da primitiva fábrica, porque uma grande parte dela é reconstrução que data do tempo de D. João V, sé­culo XVIII.
 
 
Pág. 477 - Igreja de S. Francisco, no Porto
Foi construído este edifício em 1404 por D. João I, em substituição do que no século XIII havia sido fundado fora dos muros da cidade por D. Sancho II. O edifício do mosteiro foi transformado em palácio da Bolsa e tribunal do Comércio. Mas da antiga fábrica da igreja, restaurada em 1840, ainda há pedaços arquitectónicos dignos de menção, como é a sua rosácea, uma das belas coisas que no Porto se tornam dignas de ser admiradas.
 
 
Pág. 480 - Túmulo de D. Maria Rodrigues, esposa de Lopo Fernandes Pacheco
Figura na nossa edição este túmulo por ser monumento coevo dos primeiros tempos da monarquia, por se tornar digno de nota pela sua arquitectura, e ainda por que nele repousam os restos da esposa de um homem que figurou entre os personagens no­táveis do nosso país.
 
 
Pág. 481 - O povo lançando fogo à porta do Castelo de Elvas
Este episódio do tormentoso período que vai da morte de D. Fernando até à aclamação de D. João I, é decerto um dos mais bem interpretados na ilustração pelo nosso colaborador artístico, que não es­queceu o mais pequeno pormenor, e usou na sua com­posição o maior rigor histórico. É a págs. 508 da nossa edição que se encontra narrado este episódio.
 
Pág. 485 - Túmulo de D. Mafalda
Não é bem própria esta epígrafe para designar o monumento que a nossa gravura representa, porque é mais um sarcófago do que um túmulo esse mo­numento. Esta D. Mafalda era filha de D. Sancho I, e tendo-se divorciado do seu primo D. Henrique de Castela, por haver feito voto de castidade, reco­lheu-se em 1220 ao convento de Arouca, que restau­rou e ampliou, morrendo nele em 1290, com fama de santidade. Em 1617, aberto o seu sepulcro, quando se tratou da sua canonização, encontrou-se-lhe o corpo inteiro e incorrupto. Esta canonização foi feita em 1734, pelo papa Pio VI, sendo, pois, desta data que o corpo de D. Mafalda foi metido no rico sarcófago guarnecido a prata, que a nossa gravura representa e que existe em um dos altares da igreja do mesmo convento de Arouca.
 
 
Pág. 489 - Sueiro da Costa
Fidalgo distinto, cujo nome não figura na nossa História, deve figurar na nossa galeria, porque foi notável pela bravura e coragem com que se bateu em Castela e na França, e porque foi um dos doze generosos fidalgos que, capitaneados pelo famoso Magriço, foram à Inglaterra em 1390 vingar em público desafio contra outros doze daquela nação a honra, por estes ultrajada, das damas do Paço Inglês. Este retrato, que, como dissemos na nota que acompa­nha a sua epígrafe, é feito sobre o que aparece nos Retratos e Elogios de Varões e Donas, é, segundo a indicação apontada na biografia deste personagem, inserto naquela mesma publicação, ti­rado do que existe no Palácio velho da Ajuda.
 
 
Pág. 493 - Mosteiro de Monchique, no Porto
Fundado em 1545 por D. Pedro da Cunha Coutinho e sua mulher D. Brites de Vilhena, este convento de freiras franciscanas, hoje demolido, apesar de muito alterado por sucessivas modificações, algumas de muito mau gosto, era, ainda assim, um dos mais perfeitos exemplares da arquitectura da Renas­cença em Portugal. Ainda nos dão ideia da sua beleza a galeria em arcos da direita, e o pórtico com os seus velhos medalhões, representativos talvez do fundador e fundadora do mosteiro.
 
 
Pág. 497 - Morte do Conde Andeiro
A cena tão brilhante e rigorosamente reproduzida pelo pincel do nosso ilustrado aguarelista, vem descrita com o encanto especial que M. Pinheiro Chagas imprimia a todos os seus trabalhos a págs. 512 a 514 da nossa edição.
 
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Pág. 501 - João Pereira Agostim
Mais um dos doze que foram a Inglaterra com o fim de desagravar as damas inglesas ultrajadas pe­los senhores seus compatriotas. Foi personagem notável da sua época, e o seu apelido de Agostim foi-lhe aplicado em resultado de uma acção de valentia com que ainda em Inglaterra matou em público desafio um inglês daquele nome. Este seu re­trato, tirado, como dissemos, do que vem na cele­bre colecção de Retratos e Elogios de Varões e Do­nas, foi copiado de um quadro antigo existente no Paço velho da Ajuda.
 
 
Pág. 505 - Ermida de S. Braz, em Évora
De estilo gótico-romano, de que poucos espécimes restam já em Portugal, esta ermida foi edifi­cada em 1482, por ocasião de uma peste que asso­lou o país, cessando este flagelo, segundo a tradi­ção, logo que a sua fundação principiou. Consta que a primeira imagem de S. Braz que aí existiu era um retrato perfeito de D. João II. A que lá está agora não se sabe em que época substituiu a primeira, cujo destino se desconhece.
 
 
Pág. 509 - Convento de Santa Clara, em Santarém
Foi fundado por D. Afonso III em 1359 este mos­teiro, que é vasto, tem ricas capelas, três naves, e as colunas que as sustentam cobertas de arabescos dourados. Ao fundo do coro existe um mausoléu duma filha natural daquele monarca, D. Leonor Afonso, que foi freira neste mosteiro. O edifício tem sofrido modificações tais que do exterior apenas a rosácea tem o aspecto da majestosa arquitectura da época.
 
 
Pág. 513 - Morte do bispo de Lisboa
Na página imediata encontra-se a descrição desta cena violenta, que, como tantas outras, tão bem pinta a barbaridade da época e os excessos a que leva a paixão política, quando um momento de desafogo permite ao povo tomar a sua desforra.
 
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Pág. 517 - O Sá das Galés
É inédito este retrato que, pelo aspecto que apresenta, bem se vê ser representativo dum personagem daquelas idades. Este retrato existe pintado em madeira no velho solar dos marqueses de Abrantes, na Póvoa de Santa Iria. É personagem muito citado na nossa História, pela valentia, coragem e fidelidade com que em todos os tempos sustentou a causa do Mestre de Aviz.
 
 
Pág. 521 - Castelo do Sabugal
Tem aspecto e tradições pitorescas este castelo construído em 1296 por D. Diniz. Ao centro, lá se vê na gravura, levanta-se a torre de menagem, de grande altura em forma pentagonal que tem no tecto da sua mais alta abóbada as armas de Portugal, tendo por baixo esta inscrição:
Esta fez el-rei D. Diniz, / Que acabou tudo o que quíz; / E quem dinheiro tiver, / Fará tudo o que quizer. //
Aludindo ao feitio singular desta torre, cantava-se em todo o país esta quadra pitoresca:
Castelo de cinco quinas / Não o há em Portugal. / Senão junto ao rio Côa, / Na vila do Sabugal. //
 
 
Pág. 525 - Santa Cruz, pertencente à Sé de Évora
É do século XVII esta obra de arte que, se não prima pela imaginação ou pela faculdade inventiva, supre estas faltas pelo esmero, variedade, cores e brilho das pedras preciosas, de que é coberta, não apresentando quase lavores alguns. Segundo um manuscrito da biblioteca desta cidade, a Cruz de Évora devia ter 840 diamantes rosa, 402 rubis, 180 esmeraldas, 2 safiras, 1 jacinto oriental, 1 camafeu; ao todo, 1426 pedras preciosas.
 
 
Pág. 529 - Assassínio da abadessa do mosteiro de S. Bento, em Évora
Ainda uma cena representativa dos excessos que em todas as lutas civis sempre se dão, quando o povo tem ensejo para desafogar-se em represálias dos sofrimentos e sujeições sofridas durante anos. A sua descrição encontra se a págs. 531 da nossa História.
 
 
Pág. 533 - Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, em Mértola
No belo livro Cidades e Villas, de Vilhena Barbosa, encontramos sobre esta ermida, tão interessante pelo seu curioso aspecto, as seguintes linhas: «Na antiga Myrtilis, padeceu martírio, o bispo S. Fabrício; e nela nasceu santo Varão, irmão de Santa Bárbara e de S. Brissos, o qual vivendo vida eremítica, na serra a que deu o seu nome, aí morreu pelos anos 300 da era cristã. - No sítio da sua sepultura, fundou-se depois uma ermida que, de reconstrução em reconstrução, tem chegado até aos nossos tempos; é muito venerada e procurada daqueles povos. - Pró­ximo da ermida, mostra-se a gruta em que o santo eremita viveu.»
 
 
Pág. 537 - Martim do Sem
Personagem notável no tempo de D. João I, a cujas luzes e talentos este soberano por mais de uma vez recorreu, a sua biografia está resumida nas seguintes palavras que se leem como epitáfio no seu túmulo existente no antigo convento de S. Domin­gos, em Santarém, e que nos dispensa de maiores referências: «Aqui jaz o muy honrado famoso doutor Martim de Sem do Conselho do muy alto excelente poderoso Príncipe e Rey Dom Joam e do Infante Dom Duarte seu filho primogénito e seu Chanceler-mor: o qual por seu muito talento foi por eles com a Embaixada aos Reynos de Inglaterra e de Castela
 
 
Pág. 541 - Janela da casa de Garcia de Resende, em Évora
Posto que de construção relativamente moderna, século XVII, damos aqui esta janela como belo espécimen da arquitectura manuelina, tão original e tão pitoresca. Pertence à casa em que viveu Garcia de Resende, que, nascendo em Évora em 1474, aí faleceu pelos anos de 1554. Garcia de Resende está en­terrado na capela que mandou construir na igreja do convento do Espinheiro naquela mesma cidade.
 
Pág. 545 - A lenda do Alfageme de Santarém
Formosa como todas as lendas, esta assenta bem no caracter cavalheiroso e heroico de D. Nuno Álvares Pereira. Estava ele em Santarém, hesitando so­bre o que faria, em vista do aspecto que as coisas políticas tomavam, quando reparou numa espada muito guarnecida que em Santa Iria, na Ribeira, um alfageme tinha exposta. Adeantou o passo e entrou na venda:
- Alfageme, formosa espada é esta. Quereria que assim corregesses a minha. Podes?
- Melhor ainda: mandae amanhã por ela. Quando no dia seguinte a foi buscar, quase não a conhecia, tão bela estava. Nuno Álvares empunha­va-a com amor.
- Quanto devo, alfageme?
- Senhor, por agora não quero de vós nenhuma paga. Ide muito embora; por aqui tornareis conde de Ourem; então me pagareis.
- Não me chames, senhor, porque o não sou; quero que vos paguem bem.
- Senhor, eu vos digo verdade e assim será cedo.
A profecia, todos o sabem, realizou-se. É esta cena a que representa a nossa gravura, e foi essa mesma cena que inspirou o famoso drama de Garrett, o Alfageme de Santarém, essa joia literária, uma das mais brilhantes da coroa do grande escritor.
 
 
Pág. 549 - Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, em Silves
Consta ter sido fundada por D. Sancho I. quando pôs cerco a Silves, para nela se dizer missa aos cristãos, e ali serem enterrados os que morressem nos assaltos. Ainda lá existem campas, com brasões de armas, dos fidalgos que estão sepultados naquele lugar.
 
 
Pág. 553 - João do Sem
Foi um dos personagens em evidencia no tempo de D. João I e de D. Duarte, parente ainda de D. Martim do Sem. O seu túmulo, que é um monumento digno de nota do século XV, encontra-se no museu distrital de Santarém, para o qual havia passado da igreja de S. Domingos da mesma cidade donde mandámos fotografar o busto que hoje se dá pela primeira vez em gravura, bem como o de Martim do Sem.
 
 
Pág. 557 - Castelo de Alter do Chão
Este monumento histórico, que como se vê da nossa gravura, ainda se acha muito bem conservado, foi mandado construir por D. Pedro em 1359, segundo se lê na inscrição que tem sobre a porta princi­pal. Foi nesta vila e durante as obras do castelo que se deu a celebre cena de barbaridade cometida por D. Pedro I, e que a págs. 283 e 284 se encontra na nossa História reproduzida do que conta Fernão Lopes na sua Chronica de D. Pedro I.
 
 
Pág. 560 - Túmulos de Martim do Sem e João do Sem
Acerca dos personagens cujos restos estes túmu­los foram destinados a encerrar, e acerca dos próprios túmulos, ficou dito o suficiente quando a es­tes dois jurisconsultos nos referimos neste índice.
 
 
Pág. 561 - O assassínio de Lançarote Pessanha
Vem descrito com toda a verdade de que era ca­paz o velho Fernão Lopes na sua Chronica de D. João I este episódio histórico, a que Manuel Pinheiro Chagas dá tão brilhante colorido ao narrá-lo a pág. 530 da nossa História.
 
 
Pág. 565 - Última guarita das fortificações em Santarém
É tão pitoresca e tem um aspecto tão sugestivo esta guarita, a última das antigas fortificações de Santarém, que não podemos deixar de a mandar fotografar para figurar na nossa edição, de mais que, sendo a última, é provável que dentro em breve desapareça, sem deixar outros vestígios, que não se­jam a sua reprodução pela gravura, como ora fazemos.
 
 
Pág. 569 - Conde de Ourem
Foi feito sobre uma cópia fidelíssima da sua estátua jacente existente na igreja da Graça em Santa­rém, o retrato deste personagem histórico, cujo nome era Afonso Telo de Menezes, e que tanto figu­rou nos acontecimentos do tempo de D. João I e de D. Afonso V.
 
Pág. 573 - Castelo e ponte de Barcelos
Ainda lá existem, como a nossa gravura as representa, as ruínas do velho solar dos condes de Barcelos, construído num pequeno outeiro sobranceiro ao Cavado, na pitoresca vila daquele nome. A pon­te, cuja construção é decerto muito mais remota, é que tem sofrido modificações, tendo agora a resguardá-la dois gradeamentos, um de cada lado.
 
Pág. 577 - Entrevista de D. Leonor Teles com seu genro
Parece que foi apanhada em flagrante esta cena de alta traição da rainha adúltera, que depois tão castigada foi pelo mesmo a quem num momento de irritação e de vingança quis entregar o nosso país. A cena vem descrita a pág. 535 da nossa edição.
 
 
Pág. 581 - Claustro do convento de S. Francisco
Ainda um monumento, vestígios da tão antiga como elegante arquitectura gótica, de que tão belos exemplares havia em Santarém, onde este convento foi fundado.
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Pág. 585 - Condessa de Ourem
Como o de seu marido, o retrato desta ilustre dama, D. Guiomar de Vila Lobos, é feito sobre uma fotografia que do busto da sua estátua mandá­mos tirar expressamente para esta obra. D. Guiomar era bisneta d’el-rei D. Sancho de Castela.
 
 
Pág. 589 - Túmulo dos condes de Ourem
Depois do que ficou dito, ao falarmos dos dois personagens cujos restos repousam neste mausoléu, apenas nos cumpre dizer, que é ele um belo espécimen da arte daquele período, e que ainda não esta­va reproduzido em publicação alguma por nós conhecida.
 
 
Pág. 593 - O julgamento de D. Leonor Teles
É para assim dizer o começo da expiação da infame rainha o que a nossa gravura representa, e que é mais uma criação do nosso ilustre aguarelista. Encontra-se esta cena descrita a pág. 346 da nossa edição.
 
 
Pág. 597 - Pórtico da Igreja de Malvila, em Santarém
A igreja de Malvila, chamada antigamente de Maravilhas e depois de Marvila, cuja corrupção é Malvila, existia já em tempo dos Godos, mas não se sabe em que ano foi fundada. D. Afonso I deu-a aos Templários, que a reedificaram. Foi depois colegiada. A igreja é de três naves, sustentadas por doze colunas jónicas. O pórtico é de laçarias e feito de boa escultura, revelando antiguidade.
 
 
Pág. 601 - S. Frei Gil de Santarém
Ainda que já deslocada do seu devido lugar, pois que este vulto do hagiológio português, viveu e morreu no século XIII, não podíamos deixar de reproduzira sua simpática fisionomia, demais que tínhamos um documento coevo, que era nosso dever aproveitar. Foi S. Frei Gil um virtuoso frade da ordem dominicana, para onde entrou depois de uma vida tormentosa de dissipação, entregando-se muito ao estudo da nigromancia, que, um belo dia, abandonou, tornando-se depois um modelo de vida religiosa e penitente. Falecido em 1265, passados seis anos foi o seu corpo encontrado incorrupto, e transferido por sua prima D. Joana Dias para um mausoléu por ela mandado levantar numa grande capela, no mosteiro de S. Domingos. Daí, passou ainda neste século o mausoléu para o Museu do Carmo, donde foi copiado o retrato que hoje damos.
 
Pág. 605 - Claustro do Convento de S. Francisco, em Santarém
Apesar de já termos dado a pág. 581 uma gravura representativa duma parte deste magnífico monumento, não resistimos ao prazer de publicarmos no­va gravura do mesmo claustro, porque ali se admira uma das maiores belezas arquitectónicas daquele claustro, o magnífico pórtico, que se vê à esquerda.
 
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Pág. 607 - Túmulo de S. Frei Gil
O que fica dito linhas acima acerca de S. Frei Gil, dispensa-nos de mais larga referência àquele velho monumento do século XIV.
 
 
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